“E aí, tá gostando?”

“De que?”

“Dele, ué. Você tá gostando dele?”

Essa pergunta me fez pensar um pouco mais do que devia, eu acho. O que, afinal, define quando se gosta de alguém? Honestamente, não tenho mais idade pra acreditar que irei ouvir sinos, minha perna vai involuntariamente levantar com nosso beijo e vou ficar entorpecida pensando nele. Se meu coração me representasse, eu provavelmente seria emo com grandes marcas pretas nos olhos, roupas rasgadas, cabelo colorido, um piercing no septo e uma tatuagem no peito dizendo “Fuck what people think”. Na verdade, diante da realidade que vivo – composta pela luta constante de ser alguém na vida, fazer o que me faz feliz (sem que eu morra de fome ou viva embaixo da ponte) e a preparação para o amor da minha vida (o que quer dizer: personal trainer + nutricionista) – fica bem difícil saber se o dito cujo já não passou por mim e eu sequer vi.

Cheguei à conclusão que me distanciei do meu ideal de estar apaixonada, entende? Hoje tenho que ser centrada, sensata, correta. E, ainda por cima, rica e magra. De certa forma, também bastante covarde, já que não me imagino fazendo um terço do que já vi acontecer na “luta por um amor” da adolescência. Me sinto cansada pra isso, sabe? Não dá tempo, sério. Quando eu penso em todo processo: conhece, se apega, se lasca e supera, já me sinto exausta pra viver o luto que ainda nem chegou.

Por que não pode ser mais fácil? Do tipo, um dia, lá estou eu pedalando na orla e ouvindo minha música folks-cult-bacaninha olhando completamente distraída pras pessoas ao meu redor e pensando em como eu gosto de comer churros. Tirando que eu nunca fiz esse tipo de passeio e, sinceramente, só sei andar de bicicleta em linha reta. No entanto, eu realmente gosto muito de churros.

Mas, vamos em frente: eu o vejo correndo, desequilibro (essa parte seria inteiramente verdade, diga-se de passagem) e ele viria me ajudar e assim, como duas pessoas normais e disponíveis que o destino resolveu juntar, nos conheceríamos. E, logo depois, namoraríamos, noivaríamos, casaríamos e contaríamos pros nossos filhos daquele dia em que eu quase caí. Tirando que pessoas normais não se conhecem desse jeito, 1) aparentemente não há flerte sem que haja um copo de bebida envolvido, 2) pessoas disponíveis não estão de bobeira por aí, as que ficam à toa são as dispostas, 3) destino é desculpa pra conformismo. Ou seja, uma história de amor como essa só aconteceria em uma realidade paralela.

Mas que seria bem mais fácil assim, seria.

Então, o que me resta? Conhecer alguém na balada, através de amigos em comum ou aplicativos de paquera. VOU MORRER SOZINHA, TENHO CERTEZA. Sério. Por quantas vezes mais tenho que passar por esse suplício?! Me sinto como o Coyote na sua eterna busca fracassada pelo Papa-léguas. Alguém manda ele parar, por favor? Sempre torci pra ele e senti uma dor no coração. Definitivamente, eu sou o Coyote do Amor (medo que essa expressão se torne uma música de forró. Desculpa, mundo).

Mas a questão é: como saber com toda essa expectativa se o papa-léguas que eu persigo é, de fato, o que eu preciso? Quer dizer, devem haver milhões de papa-léguas por aí, não é? E provavelmente nem todos vão tentar me matar em alguma explosão. E, talvez, nem todos fujam de mim desse jeito. Talvez, alguns me deem uma chance sem que eu precise armar uma emboscada.

Calma, ficou muito confuso. Vou parar com as metáforas.

Acontece que como eu posso saber se eu gosto mesmo de alguém, visto que eu estou muito preocupada que seja ele e eu seja a certa pra ele? O que eu quero dizer é que, às vezes, estamos tão submersos em nossas próprias angustias, receios e no nosso relógio interno altamente competitivo com os alertas de noivado no Facebook que superestimamos qualquer criatura que nos trate melhor do que político em época de campanha. Nós nos vendemos pela fantasia talhada a satisfazer nosso ego de que precisamos encontrar alguém, e tem que ser agora.

Sabe, nessas horas, eu indico parar e pensar, DE VERDADE. Se entender, enxergar o relacionamento como quem o visse de fora. O que tem valido a pena, o que não tem? O que você deixou passar por não achar significativo naquele momento, mas que poderia ter consequências futuras ainda piores? O que faz seu coração palpitar: estar com ele ou estar com alguém?

Bom, a questão é que eu não sei se eu gosto dele. Não sei se terei tempo de saber antes de perdê-lo, mas eu sei que se for pra se consolidar, eu não vou precisar perdê-lo pra isso, entende? A gente não dá valor só quando perde, a gente vê o valor e o ignora. A gente teme o valor que dá, quando perdemos é que nos sentimos corajosos o suficiente pra se arrepender e voltar atrás. A questão é que nem tudo precisa ser um arrependimento, nem todo relacionamento tem que começar da confusão, do transtorno, do medo. Eu acredito que as coisas podem surgir naturalmente, acredito que podem vir tranquilas com o único intuito de nos fazer bem. Acredito que, quando eu gostar dele, eu vou saber. É forte, e eu simplesmente sei. Vem de dentro. Assim como eu sei que gosto de churros.

Que nem todo gostar venha do choro, que nem todo começo venha das cinzas. Que nem todas as promessas nasçam de mentiras, que nem todos os carinhos tenham segundas intenções. Que nem todo amor cresça do conflito, que nem todo casal se perca na dúvida. Que nem todo relacionamento seja munido de inseguranças, que nem toda paz no coração venha da pressa. Mas que, sobretudo, seja natural, sentido. Que seja amor e, não, apego.

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