Numa conversa entre amigas, me dei conta de que, apesar de cada uma ter suas próprias preferências e termos tido experiências com caras completamente diferentes entre si, se listássemos as qualidades boas que nós tínhamos expectativa de encontrar neles preencheríamos a mesma lacuna de supostas necessidades. Nós estávamos apaixonadas pelo mesmo cara e, digo mais, com algumas modificações sutis, este ainda era o nosso primeiro amor. A cada investida em um relacionamento adquiríamos uma edição de capa dura e cintilante do mesmo livro de conto de fadas. Afinal, por onde andavam os príncipes?

Tenho a oportunidade, quase que diária, de conversar com mulheres de diferentes idades, etnias e culturas e, aparentemente, compreender através da escrita o que todas elas sentem e buscam. Uma honra inenarrável, sem dúvidas. Mas será mesmo uma coincidência? Com o tempo, passei a enxergar um padrão:

1. Fidelidade lidera o ranking de prioridades; toda mulher já sentiu-se traída alguma vez na vida, ainda que não tenha sido de forma carnal. Traição é relativo e, por mais que esqueçamos de admitir, também um assunto extremamente pessoal. Cada casal (que não precisa necessariamente ser de duas pessoas) faz suas regras. Mas esse é um assunto para outro texto.

2. Praticamente tudo que você considere ofensivo, no entanto, você não tenha direito de reclamar, você pode acusar como falta de respeito. Porque há uma partezinha de você incomodadíssima com o fato de que, afinal, você não pode controlar a vida do outro como pensava (ou gostaria). E essa parte chama-se ego.

3. Consideração nada mais é do que preocupar-se em como a outra pessoa se sente constantemente, mas ao invés de ser vista como uma empatia obsessiva é um lindo ato de altruísmo. O primeiro problema é quando, ao final do relacionamento, ainda existe uma cobrança excessiva de se manter o mesmo tipo de consideração. O segundo problema é que consideração também é relativa a importância que você dá ao que acontece a sua vida. Ou seja, cada qual mede a sua com sua própria régua.

Para mim, para o meu trabalho, é ótimo padronizar os sentimentos porque assim consigo atingir um público ainda maior e mais diversificado. Na verdade, eu escrevo pra mim e cada uma delas se identifica com sua própria interpretação de si mesma. Confesso que, às vezes, eu sinto vontade de dizer “Peraí, eu não disse isso! Se você enxergou dessa forma foi reflexo ao que você mesma pensa e sente. Não culpe o autor!”, mas em geral, eu só agradeço que me façam sentir normal diante de tanta loucura.

E assim, aos poucos, a imagem do príncipe se materializou a minha frente, até eu mesma cheguei a acreditar que ele existisse. Esse cara carinhoso, educado, cavalheiro (por favor, sem ser machista), que quer algo sério, que assume o que sente, que valoriza a monogamia, estabilidade, que faz a mulher sentir-se linda e amada todos os dias, que compra rosas e chocolates pra sua tpm (e não acusa os hormônios de qualquer oscilação de humor), esse cara que escreve poesia quando está apaixonado, que troca futebol e cachaça pra ficar de pernas para o ar ao lado dela na cama, que luta por sua independência financeira, que sacia seus desejos, que respeita sua individualidade, que tem, mas não abusa da amizade com outras mulheres, que não dá chilique de ciúmes, que não é acomodado profissionalmente, que não olha pra outras mulheres na rua e que ainda é (ou definitivamente tem tudo pra ser) um paizão realmente existisse. Esse cara. Dá pra acreditar?

Pois é, se eu escrevesse esse parágrafo do ponto de vista de uma mulher esperançosa, otimista e se achando boa o suficiente para merecê-lo, este texto iria viralizar. No entanto, não estou aqui pra dizer que não somos boas, tampouco pra reafirmar o que milhares de mulheres constatam por conta própria todos os dias; esse homem, se já existiu, anda extinto, mas pra nos lembrar que muito custa esperar por alguém assim.

Acontece que se pegássemos todos os homens que se consideram bons partidos e catalogássemos seu passado, suas mulheres, chegaríamos a mesmíssima conclusão: o que eles procuram nelas também é superestimado. Essa mulher que está sempre em forma, se dar super bem com a família, não reage em público nem se estiver com muita raiva, que permite aquela saidinha semanal com a galera pra tomar umas, que não vai olhar de rabo de olho as notificações do seu celular, que não vai desconfiar da procedência de qualquer objeto perdido em seu carro, que vai reconhecer a boa intenção por trás de um presente comprado na promoção que não pode ser trocado, bom… também não existe.

Príncipes só casam com princesas porque ambos fazem parte do acervo cultural da nossa sociedade. Dos fragmentos de histórias recontadas há décadas de geração pra geração de como nossos avós se casaram antes dos 25, compraram casa, carro e criaram bem 10 filhos com muito esforço, consideram o amor e o casamento um arranjo preto no branco, feito de certo e errado.

A novidade é que não é.

Mas já havíamos descoberto isso, eis porque há tanta gente “vivendo a mesma história”, entretanto, parece que temos um problema em aceitar que não há nem uma regra que faça uma relação dar certo. Ou durar. O que as pessoas acham que signifique a mesma coisa, mas também não é (e isso também fica para um outro texto).

Não podemos nos fantasiar de princesas pra atrair ou manter a quem queremos chamar de príncipes. Na melhor das hipóteses, teremos uma relação que foge da realidade em expectativas, que frustra os envolvidos e tira um pouco da nossa esperança de que merecemos esse tal de final feliz. Dar certo exige um esforço imenso, tempo e, principalmente, perspectiva, afinal, a insistência é sinônimo de que pra um ainda pode existir o que o outro acha que já acabou. Vai ser difícil, sim, mas vai ser melhor do que o relacionamento dos seus sonhos, até porque esse vai existir.

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