Sem dúvidas, a expectativa que antecede é a melhor e a pior parte. Quer dizer, quando mais sentiria o ardor da ansiedade misturado ao medo do fracasso em uma só noite? Porque, você sabe, é esse medo que deixa a gente louca, preocupada com os mínimos detalhes e as desculpas pra se livrar das artimanhas concebidas após algumas doses. Isto é, partindo do pressuposto de que haverão essas piadinhas de bom gosto tão mal recebidas, conforme manda o figurino. E, claro, que haverá sequer uma dose. Sem falar que, o primeiro encontro é a única coisa do mundo que se repetirá sendo a primeira. Você não vai ter a segunda chance de um primeiro beijo, nem uma primeira transa, nem mesmo do pior término. Aos poucos, a gente vai se vangloriando dos pequenos detalhes que remetem à primeira vez de qualquer coisa por pura nostalgia. É o benevolente, quase inocente, desejo de estar zerado. Como se tivesse a chance, imaculada, de fazer diferente de novo pela primeira vez. E, pensando assim, bem que te dá uma vontade de guardar à fino trato o primogênito da relação, a impressão, pra que decepção nenhuma a massacre.
Não me entenda mal, mas ter apreço não é ter apego. O primeiro encontro merece, sim, ser bem cuidado, planejado, excitado. Mas, não, superestimado. Se você acha que ele é fundamental pra definir o andar da relação, minha amiga, de duas, uma: você termina desesperada em despejar seus planos de uma vida na esperança de um “Eu também quero isso!” em resposta ou se vê frustrada ao perceber que ele não considera teus sonhos, tão bem ensaiados pra soar perfeitos, sequer empolgantes. Nesse caso, não seria mais fácil mandar um questionário antes? Pelo menos, te pouparia da noite fadada ao fracasso.
Honestamente, não é porque suas conversas se confundiam e seus desejos se moldavam que ele fosse o tal. Quem tem lábia, usa. E, cuidado, porque também abusa. Antes que pudesse perceber, você se envolvia, se deixava levar pelo afago da voz, o ritmo acelerado. Inevitavelmente, esquecia de se perguntar sobre aquele silêncio tranquilo, sabe? Aquele completamente confortável de quando os olhos simplesmente se encontram e deslizam para a boca. Olhos, boca. Olhos, boca. Quem pode ouvir palavras em meio à isso? É quando lhe vinha o riso nervoso, imprevisto, da certeza de que não fazia ideia do que falavam há horas. E nem ligava. É bom também que não lhe perguntem o que achou do restaurante que foram, pois diferente dos namorados que tem um ao outro como rotina e a saída como distração, você tinha a liberdade dos dias atentos ao mundo e a escolha de ater a atenção à ele. E fazia do garfo um microfone, enquanto a comida esfriava. Sinceramente, sequer sabia o que tinha pedido.
Em silêncio, desejava que ele tivesse notado o cuidado da unha bem feita, do cabelo penteado, dos detalhes minuciosos pra rejeitar qualquer oferta. No fundo, você sabe, queria dar o “sim”, mas precisava do aval, qualquer sinal de que não seria o caso de uma noite só ou, pior, que não seria o caso daquela noite em questão. Porque mulher também tem seus pré-requisitos, além da marra, da queixa. Não se faz de difícil por inteira, mas por análise. Secretamente, quer um sorriso safado de canto de boca e o frisson da frase “Ainda não acabei com você” na despedida. Mas no primeiro encontro também se contém, se defende. Tem dessas de se sentir testada e ter a aprovação na ligação do dia seguinte. Nem sempre porque se importe, mas o primeiro encontro é cativo pelo duelo de egos.
A verdade é que tudo bem se não deu certo e não foi como você imaginava. É normal. Inclusive, a culpa é da nossa expectativa e não do desenrolar da noite, por sinal. Mas, tudo bem, sabe? Não deve se cobrar esse encaixe perfeito, esse encontro de almas, esses sinos que não tocam e a perna que nunca levanta. O primeiro encontro é real, concreto. É a cura do coração partido, das lembranças que vem à tona e da insistente mania de achar que a busca chegou ao fim. Você sempre vai ter mais uma chance de viver como se fosse a primeira vez com alguém. Com alguém, não com o mesmo. Quando “o mesmo” vier, seu primeiro encontro será o último e você vai agradecer por ter tentado. Mais uma vez.

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