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Pra mim, nunca foi saudade. Foi você. E depois de você, a saudade não foi mais ninguém. Eu tentei me afastar, juro. Mas eu sabia que dessa vez seria diferente, ia doer de verdade. Sabia que não ia conseguir te esquecer da noite para o dia, que dividiria contigo meus sonhos mesmo quando a cama estivesse vazia. Eu sabia que tudo estava prestes a mudar; a cor do céu, o tom da música. Sabia que, se você me bagunçasse por dentro, eu levaria um tempão para pôr cada coisa em seu lugar; a começar pelo coração que passou a chamar de lar onde você estava. Eu sabia que, depois de você, eu teria medo de me envolver novamente ou pior, medo de correr o risco de sentir por outro alguém o mesmo que por você.

Não acho justo, sabe? Não foi destino, não foi sorte, não foi o tempo. Foi você. Como eu poderia atribuir a qualquer um o que você fez comigo? Eu podia ter me afastado, eu sei, mas não quis. Vê se me entende: quando alguém nos faz sentir medo pela primeira vez é exatamente quem precisamos, quem nos desafia. Enquanto a vida ensina a sermos fortes, quem temos ao lado que ensina a sermos corajosos. Depois de você, não sou mais a mesma. E nem ligo. Não tenho vontade de saber onde eu estaria se não tivesse te conhecido, devo quem sou a quem fomos.

Não me cabem arrependimentos. Na verdade, eu sou grata. Eu amei, eu lutei e eu sofri, mas no fundo, fiz tudo isso por mim, e não por você. Sempre quis saber como era perder a cabeça por alguém, perder o sono, e a vergonha. Abraçar a intimidade de suas vidas em um só passo, preencher lacunas inteiras de afeto e respeito e subestimar o espaço tempo contido na intensidade da distância. Foi uma escolha inteiramente minha, não nossa. Pensando bem, talvez esse tenha sido o erro, faltou plural e amor no singular, se não for próprio, se conjuga com a dor. Mas se quer saber, eu faria tudo de novo. Aliás, eu faria tudo por só mais uma vez.

Se eu tivesse pensado em ti lembraria de todas as vezes em que soube que teríamos fim e te pouparia bastante tempo. Mas aí, também perderíamos todos os beijos, as reconciliações, os apelos. Não me leve a mal, fui mesmo egoísta. Eu te queria tanto para mim que transformei todo último abraço em recomeço. Sei que passei do ponto, sou exagerada. Sempre fui. Antes de você, eu confundia a solidão com a liberdade, e  hoje, sigo em frente acompanhada pelas nossas lembranças, agora tão minhas. Não é que seja melhor, mas é o mais perto que tenho de você. Acho que até já me acostumei, sabe? De que outra forma eu saberia que é amor se você não fosse saudade? Foi você. E depois de você, amor não foi por mais ninguém.

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