Nunca vou esquecer o dia em que reparei que os pelos do seu focinho ja estavam ficando brancos. Olhei bem fundo em seus olhos e vi o mesmo filhote bobo que eu criei por anos, respirei aliviada. Ela sempre foi o “o cão”. Ô cachorra danada! Não parava quieta, só fingia que estava dormindo, mas se levantava ao menor sinal de movimentação querendo brincar. Tão linda. Minha companheira dos melhores aos piores momentos, transformando o silêncio em poesia e me dando todo seu amor ao meu lado.

Esta vida com ela está sendo mais do que eu já pedi. Ela me mudou de uma forma linda, meu coração instantaneamente derreteu por aquela pequena criatura de quatro patas que mal sabia andar. Eu a amei desde a primeira vez em que dormi colada com ela pra sentir seu coração bater à noite inteira e saber que estava tudo bem. Ela era tão pequena, tão frágil, tão inocente. Então, naquele momento, eu prometi que iria protegê-la e cuidar dela pra estender seus dias.

Todas as vezes que eu olho pra ela agradeço por existir. Ninguém seria capaz de unir uma família, sobretudo a minha, como ela fez. É um amor tão puro que ilumina o lugar de habita. É um laço que se forma e se mantém até quando relações conjugais terminam. É perceber que família não precisa ser de sangue nem de raça. Adotar é se doar também. A gente transborda. A gente sente borboletas no estômago sempre que chega em casa e sente uma imensa saudade quando fica longe.

Todo dia a Maya me ensina alguma coisa. Um dia desses, percebi que mesmo que ela estivesse morrendo fome e tenha ido nos pedir pessoalmente pra colocar comida (sim, ela tem ESSE tipo de personalidade), ela sempre agradecia quem lhe serviu antes de comer. O que eu entendo por balançar o rabo e pular nas nossas pernas pra lhe fazermos carinho, do mesmo jeito que ela reage quando eu chego em casa e está aos latidos de alegria. Sempre. Então, eu entendi. A gratidão vem antes do pedir e, até mesmo, de ter o que quer. E ela já sabia disso. Outro dia, eu reparei que não importava se eu estava saindo de casa pra por o lixo fora ou pra viajar, a despedida era sempre dolorosa e a chegada sempre uma festa. Sempre que eu saía, ela me dava um motivo pra voltar. Esse amor é impagável.

Sei que ela vai morrer, mas detesto pensar nisso. Eu quero que ela viva pra sempre. Eu quero que o pra sempre se vire pra viver nela. Desde que a peguei, vivo numa constante contagem regressiva, ajo como se todo dia fosse o último dia. Confesso que tenho um medo tremendo desse dia, mas a melhor forma de me preparar que eu conheço é aproveitando intensamente a vida ao seu lado. Porque foi isso que ela me trouxe: paz. A sensação de estar em casa que só o carinho dela traz. E Deus tem sido muito bom com ela e comigo. Ela está Vivinha da silva.

Ontem quando voltei com ela do passeio me dei conta do quanto eu devia valorizar esses momentos que essas são nossas lembranças de “mãe e filha”. Só entende quem tem. E que eu tenho o melhor anjo. Só pode ser por isso que os cães morrem cedo.

P.s: Foi impossível resistir a essa carinha (da foto acima) de quem iria se apossar da minha vida.

2 respostas

  1. Apos ler essa reflexão recheada de amor e compreensão, vi que os pequenos momentos são os que marcam.
    Perdemos tanto tempo estudando, trabalhando e preocupando com os afazeres que nem percebemos que o tempo passou e o nosso membro da família esta envelhecendo.

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