enhanced-buzz-wide-22956-1422878198-23Havia acabado de passar pelo corredor de uma grande loja onde as prateleiras – três sobrepostas – indicavam pelas placas os gêneros de livros por ordem alfabética de sobrenome de autor. O gênero: romance. Não queria nenhum deles. Preferia filmes, preteria palavras. Imagens diziam mais. Selfies no espelho da academia compartilhados em rede eram contundentes, quem não seguisse esse procedimento era um ALF (Alien Life Form), um elfo, um ET, etc., etc., etc. Poemas para as bem-amadas nunca foram proferidos em série. Atualmente era mais de séries: capítulos de uma mesma história onde o desfecho de cada um era uma morte de alguém disposto a disputar o amor da personagem principal.

Não se engane. Não era uma autobiografia. Era ficção. Por mais que se identificasse nas histórias dos casais reais, se imaginava mais nas invenções de cenas de pares que seriam perfeitamente possíveis de ocorrer, e até nas impossíveis (sem levar em conta a propaganda do “impossible is nothing”). Por que um super-humano sobrevivente de outro planeta extinto não poderia se apaixonar por uma terráquea frágil e terrivelmente mortal? A linda princesa padrão de beleza se apaixonaria por um ogro cor de musgo-sapo? Sim!!! E todas as fábulas se tornavam factíveis… Na sua incrível realidade imaginada.

Traduções de películas de várias nacionalidades, línguas distintas, davam novas definições de mulher: Mujer, Woman, Frau, Femme. Os franceses pareciam ser mais sentimentais, ou os espanhóis, ou, não importava o país, e sim a predisposição genética somada a interferência do ambiente que faria aqueles seres serem tão ‘coração’, ou tê-lo em maior tamanho, sujeitos a explosões por tanto acúmulo de batidas, ‘sentidas’, provocando um suicídio não premeditado, mas esperado, por saberem a conseqüência do sentir demais, e sem saberem como evitar tornarem-se quem eram. Os Românticos de suas contemporaneidades. Tal qual na vida, na arte, e uma imitava a outra. Aquilo: ou só se criavam cópias ou o original nunca se desoriginalizaria. Ave Maria… Amém!

“Amem!”, eram as mensagens subliminares. Quando corpos se atraiam com mais do que a força da gravidade que derruba na cama com um bocado de safadeza parecia que o universo tinha encontrado uma conexão entre matérias corpóreas. Algo que não se evaporaria facilmente. A presença mesmo na ausência. Um olhar de raios-X que enxergava a alma (havendo ou não independente da crença de quem a portava). E o contato era isso: quase de 4° grau, como uma viagem astral ao mais além, fazendo dois que eram totalmente desconhecidos até ontem se tornarem peças vizinhas do imenso quebra-cabeça.
Surgia uma trilha sonora ao mesmo tempo em que um documentário da banda que ouvia era lançado nos cinemas. Era tudo confuso: Era real? Era imaginação? Nos fones brancos de plástico auricular preto tocava um rock com pitadas de samba, com arranjos dignos de orquestra, de uma banda que havia acabado e que ao mesmo tempo estava mais presente do que muitas ativas, com integrantes de barbas comunistas, lembrando que gostar era antes de tudo ser subversivo, um embrutecimento que não perde totalmente a ternura. O nome da mulher pensada na hora da audição poderia ser Maria, poderia ser Júlia, independente, seu nome seria sussurrado em prece, junto à letra de ‘O Último Romance’, pensando que quando acontecesse – ou já havia acontecido no exato momento agora – seria real, e não ficção. Mesmo ‘último’ seria como o primeiro, único… “E ninguém dirá, que é tarde demais…”.

11267915_897035783668841_17119963_nCOLABORADOR

Giorgio Lima

Jornalista, Escritor e Compositor; não necessariamente nessa ordem.

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