Ultimamente, eu tenho vivido a melhor fase da minha vida. Não sei dizer ao certo quando começou, tampouco em que momento eu a percebi. Um dia eu acordei e soube. Simples assim, como deveria ser. Deveria porque geralmente não é. Geralmente não somos simples, nem satisfeitos. Colecionamos nossos fracassos como um esmero invejável a qualquer medalhista; são nossos troféus. Do quê bem, eu não sei, mas são. Às vezes, acho que quem não sofre, não vive. Ou que exista algum tipo de competição masoquista de choro miserável. Não se pode lamentar sobre nada sem que mais alguém erga a voz e o peito com a ofensa de não ter o único a compelir a compaixão alheia.

Mas, sabe, se eu precisasse te dizer o porquê da minha felicidade eu não saberia. Talvez, porque essa resposta sequer exista. Nada me impede de viver uma farsa do pior tipo: a que eu mesma criei. A questão é: que problema há nisso?

O que eu vejo ao meu redor são milhares de pessoas tentando evitar o óbvio, culpar o invisível, se safar da responsabilidade de se fazer feliz. É mais fácil denotar isso a alguém, não é? Um marido, um namorado. Ou algo. Dinheiro. Mas sempre tem alguma coisa a mais. Do tipo que você não pode controlar, nem se apropriar. O importante é dar vazão a toda atitude que te obrigue a se mover.

Culpe o governo, seus pais, as estrelas. Mas se isente do pequeno passo que poderia dar hoje. Se exclua do dever de mudança ainda que a insatisfação tome de conta. O que ninguém te diz é que o contrário da mudança não é medo, é o conformismo. Definitivamente, o caminho mais fácil.

E não pare por aí: inveje o próximo. Duvide da alegria alheia, julgue o comportamento que não condisser com o que você considera certo. Xingue a errada ultrapassagem no trânsito. Maldiga as famílias que se sustentam através das esmolas que você dá a fim de guardar sua vaga no céu. Passe a maior parte do seu tempo a desdenhar a vida que você não tem por onde seus dedos salteiam em fotos. Não dê bom dia ao entrar no elevador ocupado. Desvie de conhecidos que vir casualmente na rua. Ignore comentários aleatórios de estranhos que querem puxar assunto na fila. Não devolva o troco que vier errado. Sapateie na ilusória hierarquia profissional do seu lustroso prisma. Considere-se rico por possuir um objeto de valor e não dar valor a nada que possuir. E não deixe de enumerar suas reclamações diárias sobre a vida que, supostamente, não escolheu ter. Não teve culpa de ter.

Você tem escolha. Você sempre teve escolha.

Felicidade é uma busca, não é uma constante. É preciso trocar seu sorriso amarelo por um coração pulsante, seu equilíbrio por sonhos impossíveis, o improvável por planos, suas pernas por asas e não ter medo da queda.

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