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Um dia, reencontrei uma amiga de infância e dentre as várias amenidades que se seguiram até encontrarmos um fluxo de conversa que não fosse constrangedor, notei uma pedra enorme em seu dedo (ou quem sabe, a sua insistência de sacudir as mãos no meu rosto). Perguntei se ia casar para puxar assunto e, instantaneamente, ela assumiu um tom de voz natural e desatou a falar uma porção de coisas que eu acredito já terem sido ditas várias vezes. Aquele era um território seguro para ela, e um abismo desconhecido para mim. Fiz as mesmas perguntas que se deve fazer a qualquer noiva por mera obrigação e também porque eu bem sei há quanto tempo ela vinha esperando para responde-las, e quão feliz ficava por repeti-las. Ouvi tudo com atenção, desejei felicidade, combinamos um almoço que provavelmente nunca vai acontecer e segui meu caminho, mas uma coisa não saiu da minha cabeça: quem era esse noivo tão bem falado?

Não vou negar, sou curiosa e imediatamente me dei ao trabalho de perder 5 minutos para descobrir quem era o dito cujo. Junto com a constatação do que eu já suspeitava, senti um alívio; ele era feio. Mas não era o tipo de feio que chamamos aqueles que não são bonitos. Era um feio colossal, como se ele tivesse nascido ao avesso e posto ainda criança de ponta cabeça. Tudo nele estava desconexo, errado. Lembrei-me do quanto ela era ciumenta antigamente e pensei “De duas, uma: ou ela deixou de ser ciumenta com ele ou enlouqueceu por sentir ciúme dele”. Parte de mim, acredita que ela tenha enlouquecido, e não mudado. Mas que amor não tem uma dose de loucura? Me senti culpada, superficial. Como se eu merecesse a solidão como castigo por me ater a algo tão pequeno quanto à beleza.

Sempre ouvi isso das minhas amigas “Você é exigente demais, vai terminar sozinha”, no entanto nunca achei que fosse de fato verdade. Quero dizer, todos nós temos preferências, certo? Por que eu teria que abrir mão das minhas só para estar com alguém? Eu preferia estar só a me expor com quem eu não me orgulhasse. Por causa disso, me envolvi em diversos relacionamentos fracassados. Ora porque tinha que disputar com tantas outras na mesma saga que eu, e ora porque desacreditava que alguém como ele estivesse comigo. De certa forma, a cada vez que eu enaltecia alguém por seus atributos físicos, me punha um pouco mais para baixo. Eu me sentia sortuda por tê-lo, sem me questionar se não devia ser o contrário. E achava que isso me bastasse, mas sempre acabava frustrada. No fundo, me perguntava se o problema não era mesmo comigo, se eu não devia mudar meus trejeitos, meus requisitos, meu cabelo. De fato, o problema era comigo e eu devia mudar, porém não o que eu pensava.

Com o tempo, eu entendi o que ninguém precisou me dizer: nossos gostos vão mudar, mas nossa essência, não. A gente tem mania de julgar um livro pela capa, capacidade pela profissão, estilo de se vestir pela conduta social. Ninguém está imune a formar um prejulgamento a respeito de quem acabou de conhecer. Isso é normal. Erramos quando deixamos que esse preconceito nos impeça de realmente conhecer alguém. Ou pior, quando depois de conhece-lo achamos que sabemos tudo sobre ele. Relacionamentos são, sobretudo, a soma das consequências dos encargos anteriores. Tem pessoas que estão machucadas, outras, carentes. Tem pessoas que estão tentando se reconstruir, outras, estão tentando descontar. Tem pessoas que já não acreditam em mais nada, e outras dispostas a fazer valer a pena se alguém acreditar. A questão é que, no final das contas, estamos todos em busca de alguém ou de nós mesmos.

É indispensável que você tenha prioridades, saiba o que é mais importante para ti, ainda que seja o oposto do que os outros relacionamentos pregam. Mesmo que seja a mesma história contada repetidas vezes por outros personagens, a lição de moral sempre dependerá do seu próprio ponto de vista. E isso ninguém pode dizer por você. Mas independentemente de quais sejam seus pré-requisitos, que suas exigências nunca sejam maiores do que suas experiências com alguém. O amor não é exigente, a gente que é. Podemos nos apaixonar pela forma como alguém sorrir, pelo jeito como que pega no cabelo, pela fuga dos seus olhos pelo nosso corpo. Podemos nos apaixonar por sonhos ditos em voz baixa e planos gritados ao vento que soem como música. Ou pelo silêncio absoluto que só dois corpos em completa sintonia conseguem compor. Podemos nos apaixonar por quem nos faça sentir amada, ou simplesmente, por quem nos faça sentir amor.

O problema está na gente quando exigimos dos outros o que não podemos lhes dar. Quando desafiamos a sanidade achando que o coração sabe lidar com a razão. Quando utilizamos nosso passado como escudo e nos impedimos de tentar. A gente tem tanto o que aprender ainda, e existe melhor forma do que ao lado de quem queira o mesmo que a gente? Que saibamos reconhecer o esforço ao invés cansaço. Que consigamos incentivar o diálogo ao invés da cara emburrada. Que tenhamos paciência com as nossas próprias falhas antes de apontar a dos outros. Que, um dia, encontremos alguém que nos faça sentir que o amor tem o nome dele, mas não tem cara.

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