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Ela era dessas que pensam demais. Mal conhecia o cara e já se incluía em todos os planos que o vira fazer. Fantasiava viagens, idas ao cinema, finais de tarde na praia, as piadas que diria entre sua roda de amigos, a roupa que usaria quando fosse conhecer seus pais. Eu poderia dizer que ela era sonhadora, mas não. Na verdade, ela era uma bomba-relógio. Tiquetaqueava seu coração em desespero, tinha pressa, tinha planos e estava prestes a explodir. Também tinha mania de achar que entendia melhor sobre o tempo que qualquer um. Determinava pra si mesma quando iria se apaixonar, casar, ter filhos, ser bem sucedida, assim como, quando iria esquecer, se desapegar, ser livre. Por causa disso, sentia-se frustrada boa parte das noites quando deitava para refletir, e cansada boa parte dos dias em que acordava e ia à luta.

De longe, eu vi qual era o problema dela: prendera-se ao seu ideal de felicidade, amarrara-se a um perfeccionismo de relacionamento incabível em dois seres. Porque, sejamos francas, amor perfeito só existe dentro de um, e se chama próprio. Quando se divide também se complica, se desgasta. E nenhum relacionamento é só entre duas pessoas. É entre elas e todas aquelas que passaram por elas e deixaram alguma marca. Todo mundo nos muda de alguma forma, somos mais flexíveis do que imaginamos. Nosso relógio interno não para, nossas memórias não se apagam em dias e nossas cicatrizes não se escondem em um punhado de maquiagem. O mínimo que podemos ser é compreensivel com as dores um do outro, não temos como saber qual foi o custo de cada superação.

Mas ela era dessas que pensam demais. E acreditava que poderia prever um futuro a dois quando nem sabia o que faria do seu. Cobrava-se acertos e respostas para perguntas que sequer conhecia. O que ninguém tinha coragem de lhe dizer quando pintava um quadro sobre sua realidade inventada era que a vida tem seus próprios planos para nós. E a maioria das vezes, não conseguimos entendê-los de imediato, mas temos que aceitá-los. Fomos feitos para seguir em frente, e não, para estagnar a cada obstáculo.

Pensar demais te leva a colidir, chocar seu passado e futuro, medo e expectativa, mas independentemente do ritmo que seu coração bata, você sempre terá que se superar e recolher seus cacos. O tempo não espera você se recuperar. Ela, mais do que ninguém, entendia sobre dor. Já havia sido estilhaçada tantas vezes que sabia até onde seus desencontros se encaixavam. E mesmo assim, às vezes sentia que não havia explicação para não ter encontrado ainda uma cola resistente o suficiente não se partir outra vez. Queria acreditar no amor, mas achava ser mais difícil a cada vez que se aproximava das pessoas. Por vezes, desencantada, outra hora, esperançosa. Serpenteava entre as duas metades de um coração indisposto. Mas pintava um sorriso no rosto, abraçava o absurdo e aceitava o inesperado. Esse era seu segredo: ela tinha fé no recomeço.

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