Não tenha medo de entrar em crise. Muitas vezes, associamos crises aos aspectos ruins da nossa vida, ao que nos deixa pra baixo ou uma fase que sonhamos que passe o quanto antes. Mas crises também representam transformações e mudanças que podem ser construtivas; tudo depende da nossa própria receptividade. Houve um tempo em que eu me queixava muito e, por coincidência ou consequência, mais coisas ruins me aconteciam. Hoje, eu consigo perceber que eu não era uma espécie de ímã para a negatividade, mas uma lente de aumento.

Eu perdia tempo demais tecendo dificuldades e, como era de se esperar, terminava por me sentir encurralada. As coisas não mudaram surpreendentemente pra melhor, nem se iluda. Mas eu mudei. Porque precisei mudar, porque cheguei ao meu limite e decidi não aguentar mais um pouco, e sim, fazer diferente. Eu me desfiz das minhas convicções e abracei oportunidades que teria evitado antes. Parei de dizer afirmações ao meu respeito – boas e ruins – e passei a dizer mais “sim”. Eu me permiti. Falhei, errei, sofri, mas vivi como nunca antes. Estive por inteiro com todas as pessoas com as quais me relacionei, me dediquei 100% a trabalhos que nem sequer me valiam a pena. Fui pura intensidade. Ou insanidade. Ou os dois. Mas não deixei de ser nenhuma pontinha de mim em todos os momentos.

Sem dúvidas, mais do que as pessoas que eu conheço, sei como é difícil aceitar o que não conseguimos entender, passar uma borracha em páginas que escreveu a próprio punho num esforço gigantesco e, ao mesmo tempo, completamente irrelevante de se tornar alguém ou ter, esquecer e perdoar alguém. Também sei como é se convencer de que merece o melhor pra não perder a cabeça e se culpar pelo o que – ou quem – não deu certo. Sei o que é recomeçar do zero, do meio e do fim, e acreditar que não foi em vão, porque não pode ser em vão. Porque tem que valer a pena. E, mesmo assim, sentir que não valeu.

Essa era minha forma de abraçar a crise, dançar com ela, fazer amor com a crise. Fui a crise dos pés à cabeça e descobri como vencê-la dentro de mim mesma. Tudo mudou porque eu mudei. Entendi que algumas pessoas que aparecem em nossa vida são ritos de passagem, são lições, são pra nos preparar para alguém que realmente merecemos. Às vezes, damos importância demais a elas ou a objetivos de curto prazo; o medo da rejeição e do fracasso nos impede de enxergar além das dificuldades. Não conhecemos pessoas por acidente, não enfrentamos obstáculos ao acaso, tudo tem o propósito de nos ensinar, ainda que seja a não repetir o erro. Porque nem a melhor das intenções é capaz de justificar algumas coisas. E também aprender a aceitar isso. Porque temos que tirar leite de pedra, enxergar o lado positivo com as dificuldades, pensar que poderia ser pior (embora eu deteste essa premissa) e não se “vitimizar” porque, afinal, estamos todos no mesmo barco, não é? Sei como é se acostumar com uma vida pelas beiradas, reconhecer seu potencial e, ainda assim, compreender suas limitações.

Às vezes, a gente só precisa acreditar que merece o tal do final feliz pra não se acomodar. Ninguém jamais alcançou a felicidade de braços cruzados e pés firmes no chão. Receba a crise, aceite o que não puder mudar e agradeça quando aprender a superar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *