Eu falei de você da melhor forma que pude. Omiti os teus defeitos, enalteci teus trejeitos. Eu não poupei teu nome em nenhuma conversa. Eu fiz tudo pra não te tornar passado. Eu tentei enquanto ainda doía não acreditar que fosse o fim. Insisti com minhas dores que a campainha ia tocar aquela noite. Desisti de outros romances na certeza de que ainda vivia uma história. Eu tornei verdade a maior mentira que já havia contado a mim mesma. E a culpa foi minha, eu sei. Ninguém me ensinou a seguir em frente. Talvez porque não seja algo que se pode ensinar. A gente tem que sentir. Na pele, na cara, no sangue. Mas, sobretudo, na dor.

A verdade, meu bem, é que eu nunca perdi a esperança. Nem de você, nem de nós. Sempre acreditei que você viria de alguma forma pra unir nossos percalços e dar um basta à minha espera. Acreditei impiedosamente que compensasse engolir todo pranto que o tempo abatesse por um romance que ainda iria viver. E mesmo agora que me sinto cansada, derrotada, eu não quero desistir de você. Tenho essa ridícula mania de ser otimista, de acreditar em sintonia, e no quanto eu quero que você exista.

É possível que eu tenha criado o carinho que via em seu sorriso? É possível que eu tenha forjado insinuações nas nossas meias conversas? Não era você ou nunca foi você?

Tento falar sobre as todas as coisas que amei, que eu amo, e que nem são coisas, mas são parte de mim. Tento falar sobre tudo que eu sinto, inclusive, o nada. Tento falar pra acordar minha alma. Eu só tento; eu não sinto. Porque agora o sentido que eu via se esconde. E eu cavo fundo nas entrelinhas obscuras do que escolhi ser, mas não te acho. Não me acho. Não lembro quem eu era sem você.

Culpo a minha mãe, as comédias românticas, e o afeto público desvairado, quase induzido. Peço, pelo amor de Deus, que o lado bom não exista. Mas me ensinaram a pensar positivo e agora não sei o que faço pra guardar rancor. Seria mais fácil, não seria? Se eu não conseguisse me lembrar do sol que esculpia teu rosto dentre a barba seria mais fácil. Se eu conseguisse me apegar a raiva que me fazia com sua teimosia em estar sempre certo seria mais fácil, não seria?

Tranco a porta do quarto, escondo o retrato da felicidade que nunca existiu. Massacro minha alma com a lembrança da sala preparada pra te receber. O filme que você gostava, eu não assisto mais. A música, a nossa cara, é trilha sonora de terror. Repudio esse sentimento de tormenta. Abomino essa saudade angustiante e insensata de um recomeço. Eu não mereço.

Desejei por tanto tempo uma fórmula que acreditei em tudo que me disseram. Vaguei no espaço-tempo das mensagens entre minha vontade de tomar a iniciativa. E soletrei as palavras do teu silêncio no desejo latente de te roubar mais um beijo. São coisas que só o breu proporciona ao apogeu do sentimento – ou da falta dele. Lutei contra o sussurro da tua voz que cochichava ao pé do meu ouvido o que nunca pôde me dizer. Sequer eu te culpo por isso. Estive louca, estive cega. Eu te fiz a minha vontade e te condenei pela liberdade de não ser quem eu queria.

 

Por onde andam suas pernas quando não cruzam com as minhas?

Como chegamos ao ponto dos desencontros pontuais?

O que dirá de mim em outras línguas quando sabemos que só uma basta pra me satisfazer?

O que esconde sua boca quando beija outras coxas?

 

Não é possível que não mais exista algo de mim em você.

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