Meu problema era a esperança. Cada vez que me banhava de pessimismo antes de todo encontro, eu exalava medo. Você sabe, medo e esperança caminham juntos. É difícil entende-los a princípio, mas estão lá, lado a lado. Um serve pra sustentar o outro. O medo me dizia que aquela talvez fosse minha última chance, que o tempo estava passando rápido demais, que se eu não aproveitasse quem gostasse de mim poderia passar a vida atrás de quem eu gostasse, sem reciprocidade. Já a esperança me motivava a continuar, a insistir. Podia ser ele, não podia? Amor à primeira vista não existe, não é? Quer dizer, você pode, sim, se apaixonar por alguém com o passar dos anos, até mesmo aquele que não tenha nada do que você queira. Ou queria.

Ando pensando que amor mesmo não se trata sobre conquista. Não termina com frases do tipo “eu consegui”. É uma busca, sabe? Diária, constante. O que poderia fazer o sentimento durar senão a tentativa de senti-lo novamente? Aliás, amor é sobre sentir. E se não por essa busca, quais das suas atitudes fariam sentido?

Sendo assim, eu pacientemente esperei qualquer notícia dele durante dias. Mas a cada hora que passava e eu me condenada por verificar – mais uma vez – se havia entrado no whatsapp, facebook, instagram ou, sei lá, mandado um telegrama pra sua tia-avó em Marrocos. A questão é que eu o cercava nas redes sociais na expectativa de que a qualquer minuto ele fosse se render à saudade.

Mas a pior parte era me perguntar o que diabos aquele infeliz estava fazendo – ou pensando – que não tinha a decência de se comunicar comigo. Me iluda com as piores mentiras, mas não suma. Finja saudade, mas não me esqueça. Eu, sinceramente, estava disposta a viver essa história de faz de conta, unilateral, essa história só minha que eu insistia em dividir, pra não ter que admitir que havia chegado ao fim.

Ensaiei nosso diálogo por noites em claro. Eu já sabia na ponta da língua como me desvencilhar de qualquer uma de suas investidas. Tinha decorado mais de trintas formas de dizer que simplesmente não o queria mais. E já havia desdenhado as maiores promessas que fingi ouvir aos quatro ventos. Esperei pelas flores, esperei por uma surpresa, esperei pelo pedido de desculpas. Eu estava pronta. Estava realmente pronta pra quando ele viesse.

Acontece que com o passar dos dias e a incrível falta de preocupação dele em saber como eu estava ou demonstrar o menor dos carinhos, eu percebi que pra poder ter a minha saída triunfal e dizer-lhe tudo que ainda tinha entalado na garganta, ele precisava vir atrás. Então, passei a me perguntar o que ele fazia, com quem e se pensava em mim em algum momento. Senti falta de quando era meu primeiro bom dia e meu último boa noite. Senti falta de saber sua rotina, seu almoço, seus planos. Senti falta de combinar o final de semana, um jantar fora, um aniversário da família. Senti falta dele.

E à medida que a saudade se espalhava pelo meu peito e fazia de gangorra minhas entranhas, eu tinha menos certeza se conseguiria recitar toda melodia fantasiada pro nosso desfecho.

No fundo, no fundo, eu só queria que as coisas voltassem a ser como eram. Eu só queria ficar com ele. Eu só queria apertar um botão e esquecer todas as mágoas que sofri, toda decepção que senti e todas as palavras que jurei frente as minhas amigas sobre as atitudes que nunca tomei. Eu só queria que tivesse sido um sonho ruim e ele ainda acordasse ao meu lado.

Mas não foi assim. E ele não veio atrás.

Minha história terminou assim: sem mais, nem menos. Sem final feliz. Aliás, sem final algum. Engoli em seco tudo que tinha ensaiado pra lhe dizer. Até cheguei a acreditar que ele, de fato, não merecesse tanto. Já sentia ciúmes do rancor que havia criado com tanto gosto e ao custo de tanto choro.

Meu problema sempre foi a esperança. Por toda minha vida tive medo de me tornar uma pessoa desacreditada. Tive medo de perder a fé no próximo, no bem, no amor. Então, sustentei a fino trato qualquer fagulha de otimismo que tivesse.

A verdade é que eu não me arrependo nem um pouco. Disso, eu não me arrependo nem um pouco. Prefiro colecionar asas cortadas do que abrir mão de sonhar outra vez. Eu gosto dessas histórias que se repetem em mim quando sinto essa vibração que só outro alguém me causa. Não quero o meio termo da relação. Não quero o branco no preto, enquanto houver forças pra correr atrás do arco-íris. Quero essa vida a dois de extremos fadigados, o desgaste proveniente do tudo. Sem o conformismo enfadonho do “nada”.

Sinto uma simpatia enorme por todos os esperançosos. Até mesmo um pouco de inveja de quem acorda munido de vontades de fazer dar certo com o errado. É preciso mesmo ter bastante esperança pra não desistir. Ou, quem sabe, inenarrável teimosa de se furar com espinhos ainda procurando rosas. Acontece que nunca, jamais, houve alguém capaz de conter o amor. Ele é combustão e combustível. É a solução e a criação dos melhores problemas. Definitivamente, melhores. Sendo assim, se você ama não está sozinho; a verdade é essa. Por isso, sempre vale a pena tentar outra vez.

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