O grande problema das pessoas é que elas passam a vida buscando um conto de fadas. Parece obvio não crer que eles existam, mas no fundo, você que pensa fazer parte da minoria lúcida está redondamente enganada. Mesmo depois de descartar a ideia do príncipe no cavalo branco (trauma possivelmente causado pelo Sergio Malando em Lua de Cristal), desistir de passar a vida perseguindo um herdeiro real como a Kate Middleton, rasgar a carta de 3 metros que fez para o Hanson mais bonitinho, ainda lhe sobra não só a perfeita ideia, mas uma inflexível exigência de como deve ser o SEU sapo encantado. Acontece que, naturalmente, todo mundo tem certos tipos de preferência, mas bom mesmo seria se restringissem-se a simples aparência física, afinal, feio e bonito é só uma questão de gosto. Ou miopia. Nunca se sabe.  Mas a ideologia, geralmente, atinge níveis profissionais, sociais, colossais, supratemporais, tridimensionais, chegando ao ponto de ser tão surreal quanto o Batman. Ou o Ryan Reynolds. Não basta a pessoa ter que ser esculpida com cristais por anjos alados, ela tem que ter o QI de cinco chineses, um carro muito além do popular, tem que morar só num compacto planejado, falar pelo menos duas línguas e fazer declarações românticas jamais vistas antes na sociedade. Ah, e claro, ter ficado com menos pessoas do que você.

É basicamente assim que funciona a sociedade e você bem que tenta disfarçar sua exigência compensando em alguns critérios que denota menos importância pra que aquele rapaz seja alguém de futuro, mas a verdade é que as qualidades ficam organizadas por prioridades. Por exemplo, um cara tem que ser bonito, inteligente, educado, fiel e carinho, no entanto, você se importa mais com beleza, portanto pode ser burro. Se importa-se mais com educação, pode ser feio. Se importa-se mais com fidelidade, pode ser corno. Ele, quero dizer. Então, na verdade, quando você foge ao seu “padrão” não são seus gostos que mudaram, mas simplesmente as suas prioridades ficaram mais evidentes.

Não tem quem me faça acreditar que você não teve culpa de se apaixonar por alguém feio. Sério. Você não acorda um dia e decide se apaixonar pelo Tiririca (embora, isso pra mim seja muito fácil), mas o que acontece é você, em algum momento da sua vida (sóbria ou não. Sem julgamentos) considerou um outro aspecto além da beleza como sendo o que te despertasse interesse e se jogou. Agora, todo erro pode ser perdoado, toda repetência de erro tem que ser questionada. Se você fica em uma circunstância especial (lê-se: completamente embriagada, incapaz de reconhecer seu próprio reflexo no espelho), se arrepende e depois fica de novo, então, minha querida “danou-se”. Você só não deu chance ao azar, você deu o bilhete premiado da Sena ao azar. Você não “caiu no conto do vigário”, você foi direto ao fundo do poço jogar cartas com a Samara. Entende o que eu quero dizer? Você fez uma escolha.

Algumas pessoas deixam passar as suas maiores chances de ser feliz porque aquele alguém não cumpria um de seus pré-requisitos. Aquela garota não era loira ou magra ou inteligente o bastante. Aquele garoto não era alto ou sarado ou carinhoso o suficiente. A verdade é que você tem que ser muito seguro de si e se achar realmente muito bom, quase perfeito, para questionar o valor que alguém tem baseado no que você acha de valor nos outros. Porque, sinceramente, em outras palavras você está dizendo “Ele não está à minha altura.” E as pessoas tem essa incrível, por vezes invejável, mania de se acharem boas demais para as outras. O que acontece quando você encontra alguém que julga muito melhor pra você ou “tudo aquilo que você sonhou”? Você faz de tudo pra não perde-lo. E tudo, é tudo mesmo. Todo mundo sabe como essa história é contada depois; louca é apelido. E, às vezes, tudo que você precisa pra se desapegar de um caso é se perguntar se você é boa o bastante pra merecer alguém tão bom quanto exige. Ou ruim o suficiente pra merecer alguém tão ordinário.

Mas isso tudo se deve exclusivamente à ideologia que você fez. Se você não buscasse nos outros as qualidades faltantes em si, se não fosse tão obcecada no que considera ser seu o par perfeito, se não tivesse formado a imagem de quem pode te fazer feliz, se não rejeitasse as oportunidades de tentar algo novo… Muito “se”, não é? O subjuntivo foi criado pra limpar a consciência dos covardes, porque não é uma simples conjugação verbal; é um estilo de vida. Não queira ser alguém que viu a vida passar se perguntando “e se” fosse diferente. E se tivesse tido menos orgulho e mais respeito? E se tivesse contido mais palavras e menos sentimento? E se tivesse aceito a proposta daquele despretensioso jantar com alguém fora dos seus padrões? E se tivesse se entregado ao risco e, não, ao acaso? E se tivesse saído da sua zona de conforto?

Você nunca vai ouvir a história de alguém que namorou sem ter ficado antes. Você não vai ver a história de quem amou sem ter sofrido. Você não vai conhecer quem teve sucesso sem esforço. Não é uma questão de sorte se dar bem, é de saber aproveitar as oportunidades. Um dia você descobre que liberdade é estar desprendido de seus próprios paradigmas. É deixar o medo se apoderar de suas vontades e, mesmo assim, fazê-las. É pensar não e dizer sim. É saber o caminho certo e saber qual é o errado e optar pelo o que te fizer feliz (ou seja, o errado sendo que mais divertido). É, dentre muitas outras coisas, ser a primeira a não se julgar por suas escolhas. As pessoas sempre falarão de ti e de cada ato de loucura e paixão cometido, mas quem nunca sentiu o que é ser livre consigo mesmo, simplesmente, não entende o que fazer pra ser feliz.

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