Era jovem e se isso não era desculpa era pretexto pra condenar seu fígado a mais uma dose. Tinha essa mania de fazer o errado dar certo, de desentortar as curvas. Gostava de se sentir no controle, consciente. Mas mal sustentava as próprias pernas no final da noite. Não ligava. Manhã seguinte começava tudo de novo. Por ela, talvez. Aliás, ela era a desculpa dele ou a sina. Não sei ao certo, mas ela sempre estava por perto pra que ele não resistisse à tentação.

Aprendeu a gostar dela; demônio da cintura fina, não há quem resista.

 

Se fizera a escolha certa, ainda não sabia, mas se pôs a arrumar a mala com a convicção do otimismo. Não soltaria os medos do armário antes que chegasse a hora, se é que ela chegaria. Disse a si mesmo que iria viver esse amor porque merecia e, não, porque temia a solidão. Nunca foi desses garotos cobiçados, sabe? Não tinha essa fila de mulher atrás dele. Mas pode dizer o que muitos não ousam: as poucas que se envolveu foram realmente boas. De certa forma, a inexperiência do romance lhe concedia a graça da sorte. Se já lhe passaram a perna, não se lembraria nem que tentasse. Tudo era pouco demais pra ser saudade quando ainda havia tanto pra ser vivido.

 

A conheceu na curva de qualquer esquina quando mal podia reconhecer sua própria voz. Ela ria, se divertia com o playboy embriagado. Mulher bonita tem dessas mesmo, debocha da sanidade alheia. Foi um caso de uma noite só, ele repetiu pra si mesmo por dias, semanas, meses. Até que não aguentou, foi atrás da vadia de risada estridente que se apoderara de sua mente aos poucos.

 

Não tardou a paixão acontecer. Era de se esperar, lhe disseram. Ela era muito errada pra ele que era tão certo. E fazia o que nenhuma tinha feito: lhe desafiava. Menina já acostumada com essa cobiça, não se encabulava com as investidas. Na verdade, na minha opinião, ela bem que se aproveitava. Levava fama de interesseira e nem ligava. Com ela era tudo ou nada como em um jogo de poker. Aliás, no caso dela, Strip Poker.

 

Ele prometeu a ela o que ninguém ainda tinha oferecido: o nada. Disse que só tinha amor pra dar, mas que se desfaria fácil de todos seus bens por ela. Foi com essa proposta de viver de tudo que não podia ser mensurado que ela cedeu. Estava cansada do dinheiro dos outros. Não entendia o valor que davam a ele. Eram só algumas esmolas, há tanto pra ser vivido sem elas, ela dizia. No fundo, interesseira de verdade não era. Eu disse, era só uma aproveitadorazinha. Nada demais.

 

Ele vendeu o carro, se demitiu, fez as malas e partiu ao encontro dela. Não tinha perspectiva alguma, não tinha traçado um plano. Só conseguia pensar nos enganos que o movimento do seu quadril lhe causava. Ele não sabia se era amor o que sentia por ela. Se essa vontade desesperada de estar junto, de se bastar no aconchego, se esse medo que tudo desse errado que os unia era amor. Ele não sabia, mas não se questionou nem por um dia se ia voltar. Ele estava vivo pela primeira vez na vida, mais do que já esteve nas mesas de bar, mais que já se sentiu quando foi promovido. Só podia ser amor, esse ardor que vem de dentro insensato que ela também sentia. Era angustia, paixão e desejo, tudo numa fração de segundo. Depois então não era mais nada. Mas era do nada que ela precisava, era o nada que ele buscava. Ficaram tranquilos, se eles não tinham o que oferecer um ao outro, o que viesse era lucro.E por não se cobrarem eles souberam que, de fato, era amor.

2 respostas

  1. Só pra vc não morrer. Brincadeira rs. Adoro a forma como vc trata o amor, relacionamentos e as loucuras da vida de uma mulher (nada) normal no auge dos seus vinte e poucos anos.

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