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Ela dizia que já tinha sofrido demais, que se apaixonava com certa facilidade e isso era um castigo, mas que, pior ainda, não conseguia sair de uma história mal resolvida, mesmo que sequer fosse sua. Dizia que, às vezes, se metia em outros relacionamentos a fim de, quem sabe, ganha-lo para si. Também dizia que a dor da ausência de ter alguém era maior do que uma presença de quem não lhe fizesse bem. Para ela, bastava uma faísca de esperança para acender a ilusão de uma vida inteira. E se os fins justificavam os meios, porque se preocuparia com as pedras no caminho?

Nunca acreditei que para um relacionamento ser bem sucedido precisasse ser batalhado ou que valor é um troféu dado a quem o mereceu, e não algo essencial. Mas como contra o mito popular, o bom senso perde a vez, o ditado na ponta da língua diz “O que vem fácil, vai fácil.” Mulheres bancam as difíceis como mecanismos de defesa, homens fingem estar desinteressados. E a disputa segue até que algum, já cansado de se martirizar com a falta de direito sobre as atitudes do outro (e por conseguinte, a falta de consideração), dá o braço a torcer e admite, como um fracasso, se já se encontra apaixonado. Até onde eu sei, paixão não deveria ser sobre derrota.

Mas quando a gente se põe no lugar do outro, entende. Quando a gente escuta uma história unilateral de amor, se compadece. Superestimamos sentimentos que talvez nem existam na ânsia de ter de volta esse apreço como recompensa do universo. Aceitar para ser aceito. E acabamos por acreditar que alguns traços da personalidade são fases, que a paixão é assim mesmo: impulsiva, leviana, complacente. Que qualquer um está sujeito a cometer um deslize quando embriagado por uma dose de dopamina. Que por sermos jovens, a hora de errar é agora e que, por isso, todo mundo merece uma segunda – ou terceira ou quarta – chance.

Com ela não foi diferente, depois de galgar o pódio do namoro, sentiu-se segura, aliviada. O problema é justamente esse: relacionamentos não são sobre ganhar ou perder, certo ou errado. Tudo é maleável, flexível. Não é uma disputa diária, mas uma conquista. Se você estar com quem gostaria, faça valer a pena todos os dias, e não só em feriados. Não se mantém alguém do lado provando o quanto você é bom, mas lhe mostrando como vocês são melhores juntos. Quando ela se satisfez com resultado esperado, achou que não precisaria de mais nada. Que o amor por si só, seguraria o tranco. Que se ele pensasse em terminar, se lembraria de tudo que eles passaram até chegar ali. Mas quem consegue sustentar uma relação só pela saudade dos bons momentos, quando aqueles em que estão juntos são aflitivos? Ela sentia-se tão segura que o fazia se sentir como um pupilo em constante oferenda.

Sentir-se seguro é saber que não é um barzinho com os amigos que vai fazê-lo te trair, nem um futebol na semana. Tampouco, é aquela moça do trabalho dele que você pode jurar que é apaixonada. Segurança tem a ver com autoestima, mas sobretudo, com companheirismo. É por muitas vezes ceder mais do que receber. Já o excesso de confiança é o ciúme manipulado, arranjar pretexto e criar situações para fazê-lo sentir que não conseguiria ninguém melhor do que você. Todo mundo gosta de se sentir amado, mas ninguém quer ser aquele que ama demais por achar que esse é o lado fraco da relação.

Pessoas não são troféus, não servem para amaciar seu ego. Quem mendiga valor, uma hora cansa, e de tanto se sentir usado, aparta. Quem acredita que o amor seja um campo de batalha, se rebaixa, e faz uso daqueles joguinhos que só davam certo na quinta série. Nem tudo é fase. Às vezes, é ideologia. O dilema e as dificuldades sempre vão existir, no entanto, o amor verdadeiro vem de graça e premia a coragem e a iniciativa, e não, o orgulho e a persistência.

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