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Eu menti pra você. Menti toda vez que disse que não me importava com o que fazia por dentre uma risada irônica. Eu estava lentamente me dilacerando por dentro, o riso foi puro desespero. Eu menti pra você quando disse que não fazia questão de vê-lo; não é como se eu fosse dependente de ti, mas como se você fosse a melhor parte de mim e toda vez que você se afastasse, eu tivesse medo de perder a mim mesma ainda que fosse só por um metro. No entanto, nada me doía tanto quanto a distância dos teus passos até a porta.

Menti quando aceitei de lábios cerrados e coração apertado ser qualquer coisa em tua vida, inclusive, nada. Eu queria ser aquela que você pensa antes de dormir, aquela que procura quando precisa desabafar ou contar uma piada que só você achou engraçada pra que ela o faça sentir que não está sozinho. Eu queria ser ela, a que te faz enxergar o mundo ao avesso e se apaixonar por cada desencontro que a vida trouxer. Eu menti quando um fio de orgulho precipitou minhas palavras e me fez me despedir de você ao telefone. Por mim, meu bem, eu permaneceria calada só ouvindo sua respiração pra ter certeza que você ainda estava ali, do outro lado da linha, se importando comigo. Mas eu menti porque não pude suportar a ideia de te deixar, de sair da tua vida e fingir jamais tê-lo encontrado.

Contudo, quando eu olhava pra ti era exatamente isso que eu queria: abandonar o orgulho e abraçar tudo que eu vinha sentindo. Dizer ao mundo inteiro que eu tinha te conhecido, sim. E que todo errado que eu vivi, dentre amores levianos e paixões enlouquecedoras, havia se tornado gratidão por você. Eu queria eu e você agradecendo por mais um dia nascendo lado a lado, sonhando de olhos abertos. Eu queria eu e você vivendo um no outro entre pernas e planos.

Não é como se eu nunca tivesse pensado em te dizer a verdade, aliás, eu pensava nisso todos os dias. Principalmente aqueles em que o via acordar. A hora em que nossos olhos se encontravam pela primeira vez no dia era como soltar o ar que eu havia prendido a vida inteira nos pulmões, e a rapidez com que meu coração se acelerava com a consciência da tua presença ao meu lado, todos dias, me davam a chance de acreditar em finais felizes mais uma vez.

Às vezes, me pergunto se eu tivesse lhe dito as coisas que escrevia pra ti em segredo teria sido diferente, e tento me convencer que não. Conforma-se é um dos passos de quem procura seguir em frente. Cedo ou tarde, a gente entende que não tem como manter alguém em sua vida contra a própria vontade dela, independentemente do que você tenha ofertado em troca. Ou inventado que faria. Pra quem nunca nos amou, o nosso amor por ele também nunca existiu. Não vou dizer que aprendi a minha lição porque nas manhãs de domingo, nos livros de romance, e aqui no fundo, a verdade desse sentimento me libertou. Eu faria tudo de novo.

É quase impossível que um amor tão errado com o tempo e a nossa própria insistência possa dar certo. Eu disse quase. O que quer dizer que pra não deixarmos nosso coração endurecer, pra não cairmos no abismo da desilusão, pra não matarmos nossa esperança ou enaltecermos nossas expectativas, temos que crer no quase. Ou no impossível, tanto faz. Mas quando a gente cria uma mentira pensando que nos protege da força da verdade, só alimentamos o medo de descobrir nossas próprias fraquezas. Eu menti, sobretudo, pra mim, e paguei o alto preço de te perder.

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