Outro dia, vi um rosto familiar no meio do bar lotado, mas não lembrava de onde conhecia. Decidi falar mesmo assim pra não bancar a mal-educada, sabe? Mas quando perguntei o nome dele ouvi o seu. Era seu amigo. E eu que achava que havia me livrado de você tenho dado de cara com sua lembrança a cada esquina. Fico me perguntando se você também se sente assim: cercado, encurralado. Se você também me vê nas entrelinhas do teu livro de poesia, se você me ouve cantar desafinada a música que você amava, se você encara a janela do teu quarto e lembra que eu já estive lá, fitando o céu aninhada em teu peito. Se é a minha voz que te persegue no silêncio, e principalmente, se meu nome também ainda faz teu coração acelerar.

Houve um tempo em que isso acabaria comigo, te juro. Eu ficaria mal por dias, me culpando pelo o que nos houve. Mas esse tempo passou. E não vou mentir, no fundo, eu não queria que passasse assim. Eu queria que tivesse sido especial.

Eu queria que você fosse especial.

Tenho essa mania boba de romantizar os términos e temer os inícios, de acreditar que a vida é cíclica e que, um dia, teríamos volta. Dizia evitar recomeçar pra não me perder em outra pessoa, mas percebo que quem eu não queria perder era você. Quanta gente boa eu já não deixei escapar pra não ter que te esquecer?

Você sabe, muito bem, que é só uma questão de apego a partir do momento em que tem certeza de não estar na mesma página que a outra pessoa, e depois de ter feito tudo quanto foi possível pra mudar essa história, e quem sabe, ter ouvido distante aquela voz que antes se fazia familiar. Não é mais o amor que te incentiva a continuar; é a carência, o medo de não ter outra chance, de não ter sido tão importante pra ele quanto ele foi pra ti, de ser esquecida rapidamente, de ficar sozinha.

Até que me dei conta de que uma música é só uma música, uma rua é só uma rua, um nome é só um nome. E você só mais um. Bobagem minha ter ciúmes de algo que nunca tive! Essa é mais uma das cartas que eu nunca vou te enviar. Você não merece isso, mas eu mereço esse desfecho. Inclusive, o amor que eu te tinha tenho cultivado em dobro por mim. Estou me desfazendo de tudo que é seu pra reaprender como ser minha. E sabe de uma coisa? Estou muito melhor assim.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *