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Você está bem, não está? Sei que está. Vejo suas fotos. Vejo a forma como olha pra ela. Mesmo com a imagem desfocada, seus olhos brilham. Você não desvia dela. Ela não tira o sorriso do rosto. Me pergunto se alguma vez você me olhou desse jeito. Você fazia alguma ideia de quem eu seria pra ti quando me conheceu? Você sequer planejou em segredo um futuro para nós dois? Sei que é tarde, mas queria saber. Queria saber se era nítido o seu “gostar de mim” como é por ela. Queria saber se já se sentiu assim ou se por ela sente o que por mim nunca foi capaz de ter. Queria saber se realmente esteve apaixonado ou se isso era como eu te via. Ou como eu te queria.

Já reescrevi nossa história com tantos finais diferentes, sabia? O que eu mais gosto é aquele em que você ainda está comigo. Sou eu que não tiro o sorriso do rosto e você que não para de me olhar como se eu fosse a pessoa mais linda do mundo. Não me entenda mal, eu não te quero de volta. Aliás, eu também sei que você não volta mais. Sério. Mas do jeito que você é pra mim ninguém nunca vai poder substituí-lo. Você não teve tempo de ser ruim. Inclusive, seu pior defeito foi justamente não ter estado tempo suficiente comigo. Como eu posso não gostar de você desse jeito? Eu só tive a parte boa! Às vezes, desejo que tivesse aprontado uma sacanagem imperdoável, que eu tivesse sofrido por decepção. Ou que tivéssemos tido uma briga enorme recheada de inverdades e vãs tentativas de machucar um ao outro enquanto nos despedaçávamos por dentro.

Mas não foi assim, e eu sinto falta de você. Como se depois de você, eu tivesse ficado incompleta. Há sempre um espaço reservado em meu peito ironicamente ocupado pelo vazio que você deixou. E aquela certeza de que por mais que diminua com o tempo, não vai fechar. É apenas falta, não tem nada nas entrelinhas. Não te espero, mas também não te supero. Sinto falta do incômodo que isso me causava, da minha vontade desgovernada de tentar adivinhar o que você estava pensando. Eu te enchia o saco e você pacientemente ria. Acho que hoje eu sei o que era. Mas não é mais em mim que você pensa, não sou mais eu que te paraliso. É ela. Eu morro por dentro e você dá a ela todas as coisas lindas que nunca me disse.

Quando foi que percebeu que não pensava mais em mim o dia inteiro? Levantou um pouco atrasado, tomou um café pelando e se deu conta de que não precisava de mim ao seu lado? Tenho essa cena em minha cabeça da última vez que engoli o choro por você. Se eu soubesse que esse orgulho me faria até hoje imaginar tuas respostas, eu teria te bombardeado. Acho que, no fundo, eu não acreditei que fosse minha chance definitiva. Como eu poderia, afinal? A gente sempre se supera e volta. Ou voltava. Agora você está com ela, superando por ela. E eu aqui me perguntando se na próxima vez eu vou fazer diferente.

Até já aceitei, sabe? Talvez tenha sido melhor assim. Eu tive meu espaço, pude me reconstruir. Você teve ela. Eu tive outros, e ao mesmo tempo, ninguém. Ninguém pode ser você, essa é a parte ruim, mas estou me virando. Juro. Prefiro que continue assim: eu no meu canto, você em seu lugar e meu pensamento te trazendo pra mim de vez em quando. Desse jeito, ninguém pode te tirar daqui de dentro. Não importa com quem eu esteja, nada vai poder estragar você. Essa é só minha forma de te eternizar comigo. Não quero que se torne passado, você é minha saudade. Só minha. A gente não sente falta daquilo que não foi bom.

Eu podia te escrever bonito, até te emocionar, sei lá. No entanto, poesia sem você não tem sentido. Do que adianta se enquanto te escrevo, você não tira os olhos dela? Sou coadjuvante no meu próprio roteiro. E você está bem, não está? Sem mim, eu sei e não admito. Não esqueço a foto, nem te esqueço fácil. Mas vou guardar esta carta pra ver se aprendo alguma coisa.

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