Esses dias, uma amiga me perguntou como fazia para superar o ex. Tive que ser honesta, se eu realmente soubesse o bê-a-bá não daria conselhos que fossem ouvidos. Mas ela não queria de mim respostas, ela buscava uma saída. Perguntei-lhe como terminaram e, logo, entendi o porquê de sua inquietude: eles não tiveram fim. Não foi só uma briga, foi uma reação em cadeia. Cada mágoa foi descosturada de suas linhas tortas desfazendo os nós que antes estavam cegos pela paixão. Eles nem sabem ao certo o que deu início, mas aceitaram o fim antes mesmo de tecer um desfecho. Tudo veio à tona em uma avalanche de promessas quebradas e sonhos que não saíram do papel. O que talvez eles não soubessem ainda é que para o amor e o ódio falta senso de justiça; bom e ruim, certo e errado, é tudo uma questão de opinião. Percepção é realidade, e verdade, para quem a encara. Com a cabeça quente, nem mesmo os olhos mais profundos poderiam enxergar o apelo de uma alma com o coração pela boca.
Ela estava decidida, mas uma tênue linha de preocupação lhe sobressaltava o centro da testa e punha a perder toda certeza galgada para ser irredutível. Sem dúvidas, queria superá-lo, e ao mesmo tempo, estava na cara que não. Quando seu celular vibrava, a contagem dos segundos transparecia em seus olhos. Ela estava fazendo um esforço imenso para pensar em qualquer outra coisa que não fosse o desejo pertinente que dessa vez, ao menos dessa vez, fosse ele. Usava de uma força invisível para hesitar em cada movimento até atendê-lo. Talvez para adiar a decepção ou talvez para engolir sua verdadeira vontade. Mas a verdade é que ela ainda tinha esperança. E, às vezes, quando deitava para dormir, tinha certeza que havia esquecido a felicidade no bolso da calça dele.
Já ele tentava esquecê-la, pois sabia que superá-la seria difícil. Era a mulher certa, mas para o cara errado. Ele sabia que podia mudar se quisesse, e principalmente, que sem ela não iria conseguir. Aliás, que sem ela não valia a pena tentar. Para onde quer que fosse seus olhos varriam o lugar em busca dela. Ela não emanava aquele tal do magnetismo natural, muito pelo contrário. Geralmente, passava despercebida dentre tantas outras. Mas ela era a bússola dele, e sem ela, ele não sabia para onde ir.
Foi preciso bastante tempo para que os dois pudessem se recompor. Sentiram-se devastados, nus. Como se lhes tivessem tirado toda identidade que lhes cobria os planos. Se antes, juntos, se apedrejavam, sozinhos, agora, se lapidavam em inseguranças. Ela não sabia onde tinha errado, ele não sabia acertar sem ela. Ela havia perdido a cabeça por ele, ele perdeu o medo por causa dela. Um claro romance impossível de dar certo; o meu tipo preferido. Se era o fim que queriam, precisariam se esforçar mais. Ela tinha algo que sempre o fazia voltar ou ele tinha algo que nunca a deixava ir. Era óbvio que foram feitos um para o outro, haviam se moldado a esse ponto. Haviam se doado. E em cada um cabia uma parte do outro que também lhe pertencia. Ela queria tentar de novo, ele queria tentar por ela.
Às vezes, é preciso superar a si mesmo para ultrapassar uma história. Nem sempre basta que saibamos quando é o fim. Precisamos saber o porquê, precisamos ouvir. Todo mundo merece um desfecho disfarçado em um brando acordo contanto que siga em frente. Ou enfrente. Mas se martirizar sem saber a causa não dá. Amor é amor até o final, até quando respinga despeito, tem que ter respeito. Ela teve esperança, ele teve coragem. Ele a ensinou como ser forte, ela o ensinou o sexo frágil. Ela descobriu como ser fria e ele aprendeu a amar o inverno. Eles não conseguiam mesmo ter fim.