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Ele me traiu. E não adianta tentar me consolar, eu não preciso disso. Ele me traiu e admitiu. A gente demora um pouco pra perceber quando uma situação trágica, na verdade, veio pra nos libertar, mas a partir daquele momento em diante, em que eu pude enxergar quem ele verdadeiramente era, foi como se eu nunca tivesse sido cega. Uma lucidez branda se apoderou do meu corpo, à medida em que ganhava espaço sob minhas decisões espremendo lá pro cantinho as minhas expectativas sob ele, também me trazia um alívio que há tempos não fazia morada em meu peito.

Às vezes, fazemos escolhas sensatas, que racionalmente nos parecem mais fáceis porque achamos que temos menos chances de nos machucar. Ou que amor é convivência, de fato. E acabamos por escolher o caminho mais covarde. Se nutre amor no dia a dia, sim. Mas isso não quer dizer que lhe faça inteiramente feliz, que consiga dormir à noite sem se perguntar quem estaria ao lado se tivesse se arriscado mais, sabe? Estamos aptos ao erro, ao arrependimento. Acontece. A reincidência ao erro que demonstra imaturidade, mas errar por errar é normal.

Paixão tem a ver com intensidade, momento. Mas uma coisa lhe digo: não vai ser sempre assim. E quando não for, você vai preferir por um amor sereno. Talvez, você sequer consiga palpar a necessidade de se estar em paz a dois, pois luta veementemente pra se tornar um só com quem, muitas vezes, não sabe ser inteiro estando sozinho. Não condeno a traição, mas é indubitável que teve um motivo. Nem sempre esse motivo é razão para término, mas isso não quer dizer que devemos ignorá-lo. Estamos todos estilhaçados por dentro, somos um emaranhado de traumas e rupturas latentes de relacionamentos anteriores, ou pior, daqueles que nem chegaram a acontecer e ainda nos tomaram boa parte dos planos.

Se querem ficar juntos tem que arriscar, tem que se doar. O verdadeiro engano está em quando acreditamos que a perda está diretamente ligada ao valor que aquela pessoa tem. Perda é covardia, é deixar escapar por entre os dedos por receio de um futuro imperfeito ou de uma rejeição. Perda é dar cartas, entregar o jogo e não lutar por quem, às vezes, não sai da nossa cabeça tanto quanto do coração. A gente perde porque insiste em acreditar que isso é ser forte, mas não é. Se você ver o valor que alguém tem pra ti, tem que encarar de frente mesmo. Aceitar até um “não” como resposta, seja o que for, mas deixar a encargo da imaginação o que poderiam ser não vai te proteger de um suposto sofrimento, só adiá-lo.

No fundo, temos o medo como aliado e a solidão como inimiga. Mas a verdade é que quem não estiver bem consigo mesmo não vai conseguir trazer à tona o melhor de ninguém. Ele me traiu quando aceitou ser metade, ser meio. Me traiu quando concordou com meus atos e desaprovou os meus passos, e nem tentou me acompanhar. Me traiu quando, ciente da nossa incompatibilidade de interesses, fingiu se importar com o que me fazia sorrir, sem se dar ao trabalho de sequer entender meus motivos. Mas, ainda assim, ao final só me trouxe esperança: se não fosse ele, eu ainda acreditaria que preciso de alguém pra ser fiel a mim.

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