A verdade é que não é fácil ser mulher. Pensam que seus problemas se resumem a cólicas todo mês e depilação. Dizem que todo choro desesperado vindo do nada é TPM, lhe tirando o direito de sentir-se triste sem mais nem menos. Dizem que toda cara fechada é birra, implicância, ciúmes ou despeito. Não levam em consideração do porquê estão machucadas. Dizem que são loucas, neuróticas, paranoicas, sem sequer pensar se, na verdade, isso não seria insegurança e medo. Dizem que estão fora de forma, com a raiz crescendo e mal cuidadas, sem darem-se ao trabalho de olhar pra si mesmos. Dizem que são falsas, interesseiras e que os homens sempre tem que pagar tudo, mas não a defendem em altos cargos quanto a direitos iguais. Cobram-lhe postura, elegância, classe, sem lhes dar bons exemplos. Cobram-lhe educação, maturidade e principalmente liberdade, sem que queiram abrir mão de suas vontades. Cobram-lhe beleza, a ditadura da magreza e não se importam de manter-se sequer com sua saúde.

Mas a verdade é que não é fácil ser mulher. Não é fácil carregar o fardo de uma história de injustiça onde o machismo predomina e se adaptar como sendo algo normal porque se tornou banal. Não é fácil disfarçar o nó na garganta diante da fome de um filho ou das contas no final do mês sem o direito de explodir quando estiver exausta sem ouvir que obviamente está naqueles dias.  Não é fácil se impor quando é questionada sobre executar a mesma função de um homem, sem que seja debochada.

Ainda bem que não é da vida fácil que a mulher de verdade gosta. Mulher de verdade gosta mesmo desses desafios, gosta que duvidem dela para que possa dar a volta por cima, gosta que pensem que sua rotina se resume a cuidar da casa para que possa mostrar quem manda. A mulher de verdade nasceu pra lutar, ela se orgulha disso e de cada tapa na cara que já levou da vida. Ela não tem medo, ela não se cansa. Tem muito mais força de vontade do que uma legião de homens. Ela já aprendeu que mais valem duas mãos trabalhando do que milhares rezando, ela não se contenta. Ela já aprendeu que amor é conquista, não imposição, ela não se submete. Ela já fez coisas que até Deus duvida, mas não espera dos outros o mesmo. Ela sabe que vai ter que ralar muito mais, se esforçar muito mais, mas, quer saber? Ela quer isso.

Ela é espírito, não só corpo. Ela é tudo que é de dentro pra fora; é emoção, é grito, é choro. Ela é metade mãe e metade criança. Ela é metade homem também e metade menina. Ela é metade adolescente que não foi correspondida, mas também é metade adulta e muito bem resolvida. Ela é metade pote de sorvete na madrugada e também metade a salada no almoço. Ela é o medo de não ser notada e a certeza de que nunca ficará sozinha. Ela é o calor do verão, da alma, do corpo. Ela é metade louca mesmo, desvairada, maluquinha. Mas, acima de tudo, ela é metade amor. Desmedido, impensado, às vezes, contrariado, mas ela é, sobretudo, amor.

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