As coisas começaram a dar incrivelmente certo depois que você se foi. Eu resolvi seguir seu conselho e, finalmente, comecei a me colocar em primeiro lugar, porque você tinha razão, eu era boa demais pra nós dois. Mas você se lembra daquele meu problema pra dormir? Pois é, às vezes eu queria você ainda estivesse aqui pra eu poder falar sobre tudo até pegar no sono. Porque eu queria poder te contar sobre os meus amigos novos e sobre o quanto vocês se dariam bem. Queria te contar sobre a minha primeira entrevista de emprego e queria que estivesse lá quando eu fui gastar o meu primeiro salário. Queria te contar que eu aprendi a cozinhar, mas que o meu prato preferido ainda continua sendo aquele que você fazia quando ficávamos em casa no domingo. Queria te contar sobre os meus planos para depois da faculdade e sobre aquela viagem para fora do país que está quase dando certo. Queria te contar sobre a minha nova tatuagem e sobre o quanto você teria gostado daquela festa que eu fui no mês passado. Queria te contar sobre o meu aniversário e sobre a sorveteria nova que eu achei perto de casa. Queria te contar sobre o meu apartamento novo e sobre a minha nova mania de querer compras todas as panelas e pratos bonitos que eu vejo por ai. Queria poder conversar com você sobre os problemas da minha família e queria poder te contar sobre o sofá novo que minha mãe comprou. Queria te contar que meus pais ainda perguntam sobre você, mas que na maioria das vezes eu finjo que não ouvi ou mudo de assunto logo, porque a verdade é que eu não sei mais nada sobre você. Mas se, por um acaso, você estiver lendo isso, espero que tenha a consciência de que tudo isso que te escrevo não é pra te ter de volta, mas é porque, apesar de tudo, ainda sobraram coisas boas de você em mim e, sobretudo, porque eu tenho essa mania boba de transformar dor em poesia. E você, de todas as dores, foi a maior poesia que me aconteceu.

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