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Ouvi uma história uma vez de um casal que se amava muito e por causa disso, como era de se esperar, se desentendiam muito. O problema, ao meu ver, é que eles não sabiam quem eram pra si mesmos, quem dirá, um para o outro. As discussões eram rotina, às vezes tenras e controladas, e às vezes uma avalanche de ressentimentos que arrastava consigo toda mágoa do passado e os engolia em angústia. Mas quando estavam bem, estavam muito bem. Não há quem duvidasse do quanto eram loucos um pelo outro, estava na cara, na voz, no toque. Era cuidado, carinho e apelo. No entanto, quando se desentendiam não disfarçavam a insatisfação, o rancor. Até sobrava pra quem estivesse por perto. Cansada dessa história toda, um dia, ela resolveu terminar de vez.

Por sorte ou ironia, logo conheceu outro rapaz que era melhor do que manda o figurino, que poderia lhe dar toda estabilidade emocional que precisava e se fez muito apaixonado por ela sem que sequer se esforçasse. Durou bastante, sabe? Uma vida inteira. E quando acabou não entendiam onde haviam errado já que eram tão certos um para o outro. Não demorou muito e ela reencontrou aquele seu namoradinho problemático. No entanto, estava mais maduro, mais bem resolvido. Havia mudado, como ela também. Voltaram a ficar juntos como se o tempo não tivesse se arrastado entre eles e lhes marcado com cicatrizes irredutíveis. Mas queriam ficar juntos, e por isso ficaram. No fim das contas, toda a vida dedicada a alguém que ela realmente nunca foi apaixonada não foi uma perda de tempo, afinal tiveram bons e inesquecíveis momentos, mas foi, sem dúvidas, um parêntese na sua verdadeira história de amor.

Eles se amavam, ninguém pode negar. Estava estampado na cara amarrada dela em que insistia em se fazer de difícil. Estava preso no peito dele como um pássaro engaiolado que só voava plenamente quando não tinha ninguém ao seu redor. Mas não conseguiam dar certo porque se culpam pelos erros de outros desvios. Tinham medo, tinha pressa. Já haviam decidido se afastar mais vezes do que se propuseram a lutar, mas havia algo nele que não a deixava sair, e havia algo nela que não o fazia ficar. Eles insistiam, resistiam. No entanto, não desistiam. Não conseguiam ficar longe um do outro, ia além do entendimento comum. Ela sentia a falta dele lhe entupir os vazios talhados a fino trato no passado, e transbordava. Implorava. Ele sentia a necessidade dela lhe roubar a noite inteira, e se enganava. Discordava.

Só quem já viveu uma paixão assim consegue entender o que é não se compreender perto de alguém. É um espetáculo pra quem assiste, mas um martírio pra quem o passa. Eles se amavam, mas ninguém acreditava. E as vezes, nem mesmo eles. Se testavam, se maltratavam. Mas no fim das contas tudo que queriam ouvir era que essa vida sem o outro não valia a pena. Pois, nem sempre o caminho mais seguro é aquele que te faz feliz. Quem te desafia, também te faz evoluir. Amor é superar obstáculos, já a paixão é cegar-se por eles.

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