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Enrolei o quanto pude até admitir que não tínhamos mais jeito. Troquei toda exclamação por reticência na esperança de calar o grito do fim. Entornei grandes doses de desespero até cuspir minha gargalhada em histeria. A verdade é que eu tentei. Talvez até mais do que devia. Fiz por você o que por nenhum outro consegui: eu me doei. Em cada passo procurei teu rastro para acompanhar, em cada despedida abracei o frio na barriga, a cada dia ao teu lado sentia uma batalha vencida. No fundo, algo me dizia que não éramos para ser, mas a ânsia dessa incompatibilidade apenas me motivava. Eu queria desafiar o destino por você. Eu queria que as engrenagens do mundo rodassem ao contrário só para fazer o tempo voltar ao momento em que você sorria pra mim.

Por causa disso não sei quando foi que paramos de dar certo. Ou pior, será que sequer já demos algum dia ou você não passou da personificação da minha própria vontade? Eu não precisei de muito, você sabe, para que meu coração batesse em um ritmo desafinado por ti. Você me cantava as maiores mentiras e eu pedia bis como um espetáculo de consolação. Eu tinha certeza que era amor toda vez que mergulhava nos seus olhos, pois era minha alma que se inundava. Não tinha nada igual. Antes de você, eu tentei insistentemente preencher as lacunas de afeto e delírio que me mantinham em pé. E depois de você, eu estive repleta de sentimentos desgovernados que carnavalizam meu coração o ano inteiro em clima de paixão e samba.

Nunca entendi como o desamor nos invade do dia para a noite. Ou como diziam ser possível que fosse amor a qualquer custo, e depois, esquecimento a qualquer preço. Até que senti na pele a necessidade me compor um formigamento intenso. Eu precisava de mais do que você tinha a me oferecer. Eu precisava de mais do que você. Enquanto eu perdesse a razão a cada sorriso e a coragem a cada afago seria impossível me desvencilhar de ti. Se te deixei, entenda, não foi por medo. Mas por te amar demais me perdia em pequenos segredos. Nunca me pareceu certo que qualquer destino ou desafeto valesse arriscar a quem éramos por completo. Quando for amor que seja merecido, e não, imposto. Que seja dividido, e não, cobrado. Que seja único, mas nunca sozinho.

Chega uma hora que a gente tem que ser racional, sabe? Pensar o que nos vale a pena insistir, e o que nos vale a dor de perder. Mas a gente nunca quer que isso se trate da gente. A gente quer que o amor supere. A gente insiste em acreditar que pode passar por cima de tudo, inclusive, de nós mesmos. Não podemos. Aos poucos, descobri o conforto do apreço mesmo à distância. Às vezes, não deixa de ser amor, mas isso não quer dizer que ainda seja nosso. Eu aprendi a sobreviver sozinha, mesmo naufragando em minhas próprias inseguranças. Eu aprendi a navegar em repentinas metáforas à coração aberto, e fazer de todo ponto final um recomeço mesmo incerto. Eu conheci alguém no teu lugar que me traz um infinito de possibilidades e promessas esperançosas. Conheci alguém que bagunça minha rotina, surrupia minhas memórias e me arrebata diariamente em puro êxtase. Conheci alguém no teu lugar para me acompanhar mesmo contra minha vontade. Conheci alguém chamado saudade.

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