Nunca me esqueci de quando analisei a fundo uma música do Biquini Cavadão chamada “Quanto tempo demora um mês”; vale ressaltar que foi no auge dos meus 14 anos em que meus dias se resumiam a fingir que sabia cantar as músicas em inglês, decorar a sequência de clips que passavam na MTV e descobrir bandas de índie rock aparentemente inéditas no meu ciclo de amigos porque, obvio, isso me dava uma certa vantagem quanto a eles. É a satisfação expressa no sorriso falso-modesto no canto de boca de quando eu ouvia “Você que entende isso melhor do que eu, como é o nome daquela banda…?” Nessas horas, eu me sentia o Galileu da cultura pop. Bons tempos que a relevância na vida se baseava na sua playlist do Winamp. Pois bem, em um desses momentos de profunda análise, eu não só entendi, mas também fiz questão de recitar no meu melhor estilo Shakesperiano a letra dessa canção pra quem quer que eu conversasse. A frase que mais me marcou foi “Pra criança que não sabe contar vai levar um tempão.” A música fala sobre saudade e o questionamento do infeliz dramático sobre o mês de espera pra ver sua fêmea-alfa.

Um mês. O desgraçado estava surtando e se lamentando por esperar UM mês. Concorda comigo que um mês não é nada? Principalmente, quando chega a fatura do cartão de crédito, nossa reação é sempre a mesma “Mas, já?! Que diabos é isso? Eu comprei ontem, eu juro! Vocês não podem fazer isso! Alguém chame as autoridades, a polícia, o papa!” Engraçado que o contrário não é válido. Experimenta parcelar seu smartphone top de linha pra você ver. Você acaba desenvolvendo um cuidado sobrenatural, um pânico de ser assaltado ANTES que tenha terminado de pagar indescritível! Quer dizer, ser assaltado obviamente ninguém gosta, mas ser assaltado antes de quitar, definitivamente, é Deus te testando. E quando você tem aquele dia de cão, que não só começou com o pé esquerdo, mas deu absolutamente tudo errado e você ficou desesperado pra que acabasse, daí, o destino que não é bobo nem nada e sempre arranja meios de provocar sua sanidade, te faz cruzar na rua com seu amigo que é o famoso “de férias”; aparentemente não faz nada da vida e se faz, você mataria pra descobrir o que e, principalmente, como faz pra deixar seu currículo. Conversa vai, conversa vem, ele solta aquela frase que toca na ferida, o ponto fraco de qualquer pessoa que corre contra o tempo “O dia passou voando, não foi?” QUE?! VOANDO?! Quem vai voar é a mãe se repetir isso! Acontece que, na verdade, o que eu aprendi e o que quis dizer com isso, mas como eu sou objetividade-nota-zero é que o tempo é relativo.

Poderia ter começado com isso, não poderia? Mas se eu tivesse começado, você talvez não fosse capaz de enxergar o que eu vou dizer agora: pessoas sempre nos deixam. Quando éramos novinhos, juvenis, “noobs” nos relacionamentos, o “pra sempre” era o espaço de tempo que valia de hoje até amanhã. No entanto, éramos incrivelmente convictos de que isso nunca iria acontecer, embora, o “nunca” também fosse o espaço de tempo entre hoje e amanhã e muitas vezes até menos que isso! Ou seja, o pra sempre nada mais era do que uma forma carinhosa de dizer para alguém, no caso, que aquela pessoa naquele momento era importante pra você e o nunca era a forma de pagar pela língua menos apreciada que existia. Afinal, tudo que envolve o ego traz uma frustração incubada. E à medida que crescemos nos tornamos mais descrente quanto ao poder dessas duas palavras.

A verdade é que as pessoas sempre nos deixam. É como funciona o ciclo da vida: o seu melhor amigo na infância provavelmente não é o mesmo de hoje e, quem sabe, o seu primeiro amor avassalador sequer foi aquele que você amou mais. Mas isso tudo não tem relevância alguma, inclusive porque, eventualmente, você deixou pessoas pelo caminho também e o pior, pessoas que talvez nem sabia que havia conquistado. Parece uma forma dura de enxergar a vida, meio amarga e meio fria, confesso. Mas o grande problema nisso está no fato de que as pessoas estão conformadas e, principalmente, acomodadas em deixar umas às outras. Você já teve aquela sensação de que encontrou a melhor pessoa do mundo? Aquela que te completa em tudo? Bom, sem que você mesma percebesse ela foi deixando de ser tudo aquilo que você sonhava; talvez, porque sequer algum dia tenha sido e não tenha passado das suas próprias expectativas. Talvez, porque você esteve vivendo todo esse tempo sob sua própria perspectiva de realidade e um dia tomou a pílula vermelha. A questão é que ela gradualmente deixou de ser pra você uma pessoa de importância incomensurável e se tornou a vaga lembrança de um desejo de ter. E o que você faz? Você deixa ela ir. Claro que estou tratando de situações racionais e não de criaturas obcecadas perseguidoras que não deixam o amado ir e ainda aderem a filosofia “Se não for meu, não vai ser de ninguém!” Credo. Se interna, minha filha.

Voltando… Apenas depois que você se desprende completamente de alguém e da insana ideia de que só há ele no mundo capaz de te fazer feliz e você, à custa de muito choro, desculpas e correntes pelo Face, deixa-o ir é que as coisas começam a fluir. Não que eu aposte que o Universo, o maior sacana de toda história da galáxia, estivesse o tempo todo “impedindo” boas pessoas de se aproximarem de ti por causa da sua áurea cósmica tridimensional ou sua suposta energia de radiação violenta ou seu imã de carga cibernética que só atrai coisas ruins. Francamente, não, não é nada disso. Acontece que quando você está “bitolada” em uma história, se fecha naturalmente pra todas as outras oportunidades que aparecem. Tranca as portas, fecha as janelas e até mesmo mantém as cortinas sempre baixas; qualquer gesto que possa dificultar a entrada de um ser melhor na sua vida. Ou seja, que porra de universo o que, sua louca! É você mesma! É você que se acovarda.

E se a situação for outra? E se realmente você quiser que a pessoa permaneça na sua vida? Honestamente, você vai ficar surpresa de como é fácil perder alguém. Sabe aquela mensagem que você deixou de enviar quando viu aquele filme que lembrou dele? Sabe aquela ligação que você não fez quando chegou perto de esquecer sua voz? Sabe aquele almoço que há dois anos você marca e que nunca aconteceu? Você vai ficar surpresa quando descobrir que, na verdade, não foi alguém que você se afastou, mas que se afastou de si mesma. Agora com novos gostos, novos lugares pra ir e até novos amigos, você esqueceu quem era. Muitas vezes, simplesmente, a vida acontece. Não há a quem culpar e sequer posso dizer que isso seja de todo ruim, mas venhamos e convenhamos, ninguém é feliz sozinha.

Manter alguém em sua vida é uma tarefa diária, é pôr o orgulho de lado e dar o primeiro passo. É ir atrás mesmo, principalmente se vir que há vontade. Algumas pessoas precisam ser lembradas de quem são, precisam saber que tem alguém pra contar, até quando nem elas próprias conseguem entender isso. Não se cativa alguém e se descarta. Pessoas não são como guardanapos usados; não dá pra se jogar fora uma vida de experiências, de medos e sonhos compartilhados. Não dá pra apagar a saudade de um amor perfeito, não dá pra driblar as lembranças de uma amizade sincera. Torne-se uma pessoa atemporal, valorize não só quem te dar valor naquele momento, mas quem em algum outro instante da sua vida te apoiou. Seja um colecionador, use o tempo à seu favor e faça disso uma rotina. Não se contente em ser alguém que passou na vida de outro, não se contente em ser uma carta no fundo da gaveta, um cartão de visitas na mesa. Faça a diferença que fizeram pra você, nunca é tarde demais pra se dizer para alguém que o ama. Inclusive, se é amor mesmo, você sabe. Você sempre soube; ninguém tem mais idade pra brincar com o “pra sempre”. Quando você decidir voltar, a lua vai está cheia e no mesmo lugar. Faça algo à respeito, antes que o tempo faça.

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