pin1

Ouvi de uma amiga minha, que havia namorado a vida inteira, afirmações sobre quem ela era que sempre começavam com “Eu e o Fulano sempre íamos/fazíamos/comíamos…”. Naquele momento, me dei conta de que se você passou boa parte da sua adolescência ou vida adulta ao lado de alguém (que são fases responsáveis pela formação do caráter, acredito eu), provavelmente, suas preferências tornaram-se plural. Vocês adaptaram-se um ao outro numa mistura homogênea de gostos. Isso foi bom, é sério. Esse talvez seja um dos segredos pra terem se mantido juntos por tanto tempo. Mas quando passou prevaleceu um sentimento de perda irrecuperável, pois é difícil mesmo acordar um, depois de ser dois, e reconhecer a si como inteiro, e não metade.

Acontece que se em cada relacionamento você mudar completamente quem é por quem está ao lado, realmente, não vai sobrar nada de ti ao final da história. Isso é o que eu chamo de fase. Chega uma hora que somos tentados a dar prioridade ao que é importante pra gente, ainda que soe um pouco egoísta, e procurar aquilo – e quem – nos faça bem antes de pensarmos em agradar. Com isso, também surge o medo de começar tudo de novo, se envolver, se apaixonar e, eventualmente, se sentir perdido. É normal. Afinal, nenhum vento ajuda quem não sabe a direção. Mas sempre temos como dar um jeitinho de ceder por quem achamos que valha a pena sem que tenhamos que abrir mão de nós mesmos.

É importante compreender que por mais que achemos conhecer alguém como a palma da nossa mão, aquela pessoa também tem angustias reprimidas, medos sufocados, ansiedades que embrulham o estômago. E não temos como saber cada coisinha que lhe aflige ou faz feliz. A gente tenta descobrir, é claro, mas não é nossa responsabilidade arcar com as dores ou as alegrias do outro. Portanto, às vezes, alguém só quer um tempo pra si mesmo, pra pensar melhor, pra refletir e isso pode não ter absolutamente nada a ver com o relacionamento. Você não deve se culpar por isso e, tampouco, cobrar satisfações. O melhor é deixar com que fique à vontade e sinta-se seguro para falar contigo sobre o que quiser quando quiser.

Não se esqueça das pessoas que estiveram do seu lado antes de você se envolver com alguém. Amizade não é sobre conveniência, comodismo ou rotina, é sobre afinidade. Viver uma fase completamente diferente da outra e saber que mesmo assim tem alguém para desabafar, ouvir, consolar. Não tem coisa pior do que amigos que somem quando namoram. É ruim pra quem sente falta, mas principalmente pra quem não sente porque está entretido demais com sua própria história de amor. Acontece que ninguém vive sozinho e, eventualmente, você vai precisar daquela pessoa que pôs de escanteio.

Encontrar o amor da sua vida é maravilhoso, mas saiba que isso não lhe garante o fim da busca pela felicidade. Você precisa conquista-la, merecê-la, diariamente. Ter planos que lhe impulsionem, sonhos que tirem seus pés do chão e, sobretudo, se esforçar o máximo que puder pra despertar o melhor em alguém também. No entanto, não deve se sobrecarregar com a obrigação de fazê-lo feliz. Algumas pessoas, simplesmente, podem não estar satisfeitas ao seu lado e você vai ter que entender isso. Pior ainda: você vai ter que superar isso. Já outras pessoas encontrarão em ti uma razão pra tornarem essa busca uma constante, colecionarem felicidades a cada desafio, e não tê-las como um troféu imaculado. Elas saberão, assim como você, o quanto custa encontra-la com alguém.

De antemão lhe adianto: nunca prometa não machucar alguém. Ainda que você saiba as coisas pontuais que podem lhe fazer isso, no decorrer da relação surgirão outras que você vai se surpreender ao descobrir (ou talvez nunca chegue a saber). Se for para prometer, que prometa um diálogo. Ouça mesmo quando se sentir cansado, converse mesmo quando lhe faltarem palavras. Evite dormir com raiva e enaltecer sentimentos negativos como o ciúme, por exemplo. E, no fim das contas, torça de todo coração que todo seu esforço seja o suficiente para não ferir alguém.

Às vezes, quando a relação está evoluindo tendemos a nos cobrar mais acerto, mais compromisso, mais demonstrações públicas de afeto, mais romantismo, porque talvez tenha sido assim que planejamos a vida inteira. Ou talvez foi assim que nos disseram que os casais felizes agem. O problema está em quando externamos nossas frustrações acerca do que consideramos ideal sem levar em consideração que a opinião do outro importa. O tempo dele importa. Será que ele está pronto para o mesmo que você? Ou melhor, será que espera o mesmo que você? No fundo, você sabe que se relacionar é assumir um risco. Não tem receita de bolo. Você pode fazer tudo certo e, ainda assim, dar errado. O que deve te motivar a continuar, a insistir, é acreditar que você seja merecedor de alguém bom o suficiente pra você. Então, isso pode ser o bastante pra que engula sua ansiedade e ponha-se no lugar do outro quando o futuro que planejou não sair como nos conformes.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *