Infelizmente, ser mulher implica em uma série de involuntários acontecimentos fatídicos, tais como: mirar o salto fino no buraco milimétrico da calçada que te faz repensar sobre sua posição política, ser flagrada – porque você não encontra uma deusa na rua, você flagra uma meliante – por um conhecido justo no dia em que resolveu “sair de qualquer jeito porque seria rápido”. Pior pensamento de toda história da galáxia. E, claro, lidar com o maldito chá de sumiço pela milésima vez que garante ser a última. Diferente dos homens que já nascem com um subumano poder de complexidade maléfica, mais parecido com alguma Escolinha Do Professor Lucifer, as mulheres tem que aprender na marra, ou pior aqui, sobre isso. Porque, querida, se não serei eu, alguma das tuas amigas vai te jogar o dedo na cara e teu coração às traças só em dizer “Eu te avisei”.

Acontece que, vejamos da seguinte forma, na maioria dos relacionamentos – ou de desmedidos estágios até que se esteja em um de verdade – o cara joga, o que compete em fazer de você um desafio. Então, entra aquela velha história de que eles gostam mesmo é de mulher difícil, escrota, talvez para que torne isso mais divertido. Ou seja, sinceramente, não sei se o famoso “bolo” pode ser de fato evitado. Não aprendi como se faz isso ainda. Deve ter algo a ver com o segredo da Xuxa e o gingado do Lepo-Lepo. Mas as fases do sumiço à seguir podem lhe trazer algum conforto por não ter sido a única – quem dirá a última vez.

 

1)      O alvo.

A verdade é que ninguém está a salvo. Você pode tê-lo conhecido na sua melhor interpretação de Princesa da Disney, com direito a risos forjados e gestos graciosos ou naquele dia estilo “Desapega, desapega. Olx”, os meios não justificarão os fins. Se ele a quiser, por qualquer motivo que seja, ele seguirá com os passos adiante. Quer dizer, seja por recalque, despeito, vingança ou simplesmente porque te achou muito bonita, se prepare.

 

2)      A isca.

Alvo localizado, o garoto e toda sutileza de sua jovialidade te cerca, encara e se aproxima. Essas três técnicas podem ser descritas respectivamente em 1) do nada, ele curte absolutamente todas suas fotos, compartilhamentos e publicações em toda rede social; quer a todo custo ser notado, 2) ele te vê nos cantos e demonstra com um sorrisinho no canto da boca que te conhece, mas nem perto sequer fica nos primeiros contatos visuais. O que ele planeja é despertar o interesse e, cá entre nós, o que insinua mais o desejo em uma mulher do que a dúvida do porquê aquele infeliz ainda não foi falar com ela? Detalhe que os questionamentos permanecem e aumentam quando se trata de um relacionamento virtual. O desgraçado não para te de olhar, é obcecado por suas fotos e tem, por ventura, o seu Whatsapp, então POR QUE ELE NÃO FALA? Bom, a resposta pra isso você já deve saber: ele joga a isca e espera que você pegue. Se já tiver se perguntado isso, você sabe que fisgou.

 

3)       O desafio.

Assim como manda o figurino, o papel da mulher é mostrar desinteresse, fingir que não fuçou todo e qualquer vestígio dele na cyberlife e não pediu a ficha completa para algum amigo em comum simplesmente para saber quem diabos era a ex dele. E se é mais bonita do que você. E mais magra. Fato. Já o papel do homem é provar que é alguém que merece o seu apreço. Diferente dos outros, ele diz. Sempre muito honesto, ele diz. E como um aluno determinado segue à risca os possíveis mandamentos criados sabe lá Deus por quem que detalham todas as atitudes que o famoso Cara-Diferente tem; aquele que deveria ser o oposto do comum, mas que na verdade virou mito. Com uma dedicação sem igual resigna-se a ser seu primeiro bom dia e seu último boa noite. Pergunta sobre o sua enfadonha rotina e, não é só isso, opina porque se importa com sua resposta. Deseja-lhe sorte, um bom almoço, que se cuide sozinha. Quer saber a que horas você chegou, qual filme assistiu aquela noite, se pegou pesado na academia. Cava-lhe aos poucos um espaço, antes blindado de lembranças, com perguntas que fogem ao natural interesse em saber onde pode te encontrar casualmente no final de semana. Desperta em ti um novo nível de comparação e a crescente dúvida se lhe sobra tempo para ser assim com mais de uma. Não sobra. Não pode! São respostas muito rápidas, são detalhes insignificantes contados com anseio. Antes de te conhecer, ele já era assim ou você o tornou assim? Minha amiga, a resposta pra essa é você que paga pra ver. Crente no desejo de ser A Tal, capaz de mudar qualquer cafajeste, baixa a guarda e pede o sino alegre a cantar.

 

4)      A conquista.

Sensação de constante alegria, nervosismo, brilho no olhar. Essa é você que espera ser acordada com alguma mensagem fofa, que espera uma foto de algo que te lembrou à ele. Que mudou completamente seus conceitos para que se adaptassem à alguém que sequer conhece direito. Não liga se é mais baixo, se não é loiro e se não tem formação. Você lida com um novo patamar de admiração que engloba toda atenção, cuidado e proteção que sente só em ver sua mensagem no whatsapp. Que delícia que é a espera do seu “digitando…”. Se o vê online, o coração palpita. Lá vem ele, você sabe. E quem é que vai condena-la por criar expectativas? Você pode, não pode? Aliás, você deve. Ele te deu esse direito, ele te deu parte do seu dia.

 

5)      O encontro.

Então, chega o dia. Aquele dia que marcaram a tanto custo para se ver. O dia que promete fogos de artifício, uma química descontrolada, explosão de sorrisos. E com o dia, o anseio pelo beijo, pelo toque, pelo som da sua risada. Despretensiosamente, prepara-se como se fosse sua lua de mel. Cada mínimo detalhe é levado em conta; pior do que imaginar não gostando de algo nele é se pegar perguntando se o problema foi você. Estranho que nesse dia, ele não te dá muita atenção. Mas tudo bem, se ele está tão preocupado quanto você, deve estar também se preparando. E outra, pode querer fazer aquele velho suspense, não é? Pra tornar as coisas mais excitantes, finge que não se importa e aparece com um gesto digno de novelas das oito.

Só para mostrar que você está ansiosa por isso, pergunta-lhe aonde vão. Ele está online, mas não responde. Deve mesmo estar em um dia corrido no trabalho, você pensa. Mais dez minutos se passam e ele não responde. Com o passar de uma hora, o desespero se apodera, mas você iludida o suficiente na imagem de bom rapaz que ele plantou convence-se com as fajutas desculpas que cria para si mesma de que ele VAI responder. Portanto, não quer parecer nenhuma maluca e já sufoca-lo, né? O melhor a fazer é se arrumar e esperar a hora que tinham combinado anteriormente.

A cada volta do ponteiro, seu coração reprime um grito. Que diabos aconteceu aquele desgraçado que não te dá notícias? Tomada por um súbito ódio, envia-lhe mais e mais mensagens de revolta. Nada. Nem a menor consideração sequer de te responder. Dá a hora marcada e você se sente humilhada, cansada e confusa. Decidida a nunca mais olhar na cara – ou na conversa privada – desse sacana.

 

6)       A desculpa.

Alerto-lhes de antemão que a desculpa é excelência dos mais sábios que sabem, muito bem, que depois de terem te conquistado, com um pouco mais de esforço do que o inicial e sabendo exatamente por quais caminhos ir, podem te por de stand by. Ou seja, não deixar morrer o sentimento inventado. Moldar qualquer magoa e nutrir qualquer ponta de carinho viva. Ele vem com desculpas prontas, às vezes, bem boladas, às vezes, apenas despejadas no meio de perguntas sobre seu dia, seu gosto, seu bom humor. Às vezes, de forma mais humilde, te fazendo crer que ainda é aquele cara. Aquele, sabe? Que nunca existiu.

 

A fase seguinte a essa poderia ser descrita de várias formas, dentre as quais inserem-se os piores métodos de tortura psicológica já criados. Por Hitler, suponho. Lado bom? Não tem. Mentira, lógico que tem; trata-se de superação, experiência de vida e degustação de chocolate e vinho. Muito vinho. Mas a verdade é que você não se importa com isso e quer saber? Não te culpo! Que deixe de lado toda estabilidade da maturidade se pode ouvir Demi Lovato e se maldizer por acreditar levianamente em alguém. Dói e não é uma dor comum, é dor de ódio. Como se tivesse sido feita de trouxa frente a um picadeiro.

O pior é saber que se tua história se parece com essas, então que sorte! Imagina só, o que seria estar em um jantar, o cara pedir a conta e dizer que vai atender uma ligação e não voltar mais. Ou você dar as costas por um segundo para ir ao banheiro, pegar uma bebida, falar com uma amiga e quando voltar encontrar o canto mais limpo. Claro que atitudes assim se completam com o celular desligado e o whatsapp bloqueado por ele. Surreal, não é? Mas acontece. Não comigo. Por sorte dele, inclusive. Não consigo mensurar a babaquice, nem entender a infantilidade, honestamente.

A melhor forma de lidar com isso é ampliando sua perspectiva. Se pudesse vê-lo como é, e não como fantasiou, provavelmente poderia ter previsto isso, não é mesmo? Mas será que vale a pena desacreditar de todo ato de carinho, toda atenção que lhe dedicarem porque, certa vez, algum canalha traumatizado de ego ferido e dissimulado caráter te machucou, te deu um bolo ou sumiu? Meu povo, melhore. Manter os pés no chão não é tirar a cabeça das nuvens. Você pode continuar sonhando com alguém que te mereça como ele fingiu merecer e, pode sim, errar mais vezes na escolha de quem confiar, afinal, uma história de amor se faz com duas pessoas dando o coração à tapa, não só a cara. Mas não crie expectativas. Nem precipite seu julgamento. Se por toda meia dúzia de palavras feitas e gestos nobres, você se derreter, então vai ter que aprender a lidar com terapia e não apenas com chás de sumiços que, vamos combinar? Fazem parte do show.

4 respostas

    1. Brigada, Vanessa! Adoro quando vc comenta pedindo! O tempo ta curto, mas vou me virando pra escrever, então, se tiver alguma ideia ou sugestão de tema me manda. 🙂

  1. Gosto muito da sua forma de escrever, me estimula a querer ler mais, se fosse um livro acho que leria em um dia. Como o livro da Bel Pesce hahaha.
    Como vc escreve sobre diversos assuntos, eu ia gostar muito de ler algo que falasse das responsabilidades, perspectivas, medo e coragem… De tudo isso que a gente sente qndo encerra ciclos, eu tô terminando a faculdade e algumas vezes me vejo numa crise existencial por não ter certeza do que vai acontecer, se vou conseguir alcançar todas as metas, sonhos, se vou ser feliz na carreira que eu escolhi,se eu vou embora, se eu vou ficar… Enfim, acredito que seria muito bom ler algo seu a respeito disso.
    Bjs =D

  2. Parabéns pela riqueza de detalhes, é isso mesmo que acontece, no meu caso, não estava tão afim pois já estava com o pé atrás, então fiquei mais chateada com o bolo do que propriamente com a impossibilidade de ver a pessoa. Minha pergunta é a seguinte: por que alguns homens fazem isso? Sim…porque são babacas, mas se tiver uma resposta técnica, assim como foi seu texto, ficarei muito feiz!

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