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Outro dia, ouvi que por pior que a garota fosse sempre tinha quem quisesse namorá-la.  Como se expor um título de namorada-de-seu-ninguém lhe garantisse sua vaga no céu. Ou pelo menos longe da boca do povo. Em outro caso, ouvi numa conversa sobre uma amiga minha “como ela pode estar só? ”, dito com espanto e tomado como um elogio em que diz que ela é boa demais para estar sozinha. Eu que sempre falei de relacionamentos para definir sentimentos nunca pensei que tal analogia chegaria ao ponto de caracterizar personalidades. Ou seja, mulher solteira é sempre problema, e não opção.

Com ela não foi diferente. Por fora, estava sempre sorrindo ostentando um coração que não dividia por ninguém. Mas por dentro, só ela sabia há quanto tempo vinha esperando por quem mudasse essa história. Ouvia todo tipo de especulação a seu respeito para justificar o que nem sequer havia a quem culpar. Veja bem, se ela quisesse namorar estaria namorando. Namorar por namorar qualquer um pode fazer. Com o mínimo de afinidade e interesse já se tem um relacionamento em formação. Ela poderia esperar que o carinho viesse com o tempo, que a saudade fizesse morada em seu peito com a distância, e isso, poderia acontecer, sim. Essa seria uma decisão racional: estar junto com alguém que lhe parecesse valer a pena ou simplesmente gostasse o bastante dela pra que a convencesse a tentar. Mas a pergunta é: por que, afinal de contas, ela faria isso? Ser solteira não é uma condição humana ou uma doença degenerativa, é só uma consequência de suas próprias escolhas. Estar solteira não é sinônimo de fracasso, assim como, estar comprometida não é um dos pilares do sucesso.

Ela não é dependente de ninguém, embora saiba o gosto que tem de experimentar as alegrias vindas de outras vidas que lhe foram divididas. Ela não precisa do aval de bom comportamento pra se sentir bem consigo mesma, mas gosta de ser elogiada, é claro. No entanto, aprendeu a filtrar tudo que já ouviu ao seu respeito. Nunca entendeu como alguém poderia achar que lhe conhecia quando só sabia seu nome, e ela mesmo se encontrava perdida nessa busca dentro de si. Ela não sabe como dar satisfações; ora tem receio de parecer superficial, ora tem medo de ser intransigente. Decide se pôr no lugar do outro e tenta, mesmo sob a constante sombra do erro, dizer aquilo que gostaria de ouvir. Mas tem consciência de que só mesmo a convivência lhe faz entender a importância que cada um vê.

Ela já sofreu por orgulho e perdeu grandes amizade. Já se sentiu tão desamparada que suplicou ao universo, como uma criança à mãe, que desse um jeito em sua vida. Ela já teve o coração partido milhares de vezes, e mesmo jurando ser a última, colou cada pedacinho. Porque, no fundo, ela sabia que quando a dor passasse valeria a pena. Ela tem mania de dormir com a tevê ligada e prender o cabelo em um coque alto com um lápis. Já superou a ansiedade da vida adulta, o medo do passado e a pressa pelo futuro. É prepotente ao ponto de achar que está pronta pra tudo. Ou quem sabe, corajosa. Ela é dela e de quem ela quiser. É solteira, mas isso não diz nada ao seu respeito. Aliás, diz, sim. Ela aprendeu o que a maioria das mulheres têm medo descobrir: como se apaixonar por si. Sozinha. No fundo, quem desdenha tem inveja dela.

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