Uma coisa que ninguém me disse é que histórias de amor não são escritas no passado, sobretudo, salpicadas de duvidas compostas em vírgulas. Sendo assim, me acostumei com o gosto amargo na boca de tantas vezes em que mordi minha língua. Eu tinha pressa.

Troquei meu cachorro quente de posto de gasolina por sua comida orgânica. Minha manhã de ressaca no sábado pra assistir desenho animado e comer a pizza congelada do dia anterior ao seu lado. Ele preferia Globo Repórter e eu balada. Ele preferia feijoada no domingo e eu uma boa leitura na beira do mar.

Mas já haviam me dito que eu não encontraria alguém que fosse exatamente tudo aquilo que eu queria. Que eu deveria me moldar, fazer concessões e me doar também.

Talvez eu tenha levado isso ao pé da letra, mas antes assim do que levar um pé na bunda.

Troquei meu salto 15 por uma rasteira de tiras. Traguei o cigarro que detestava e expeli meu coração aos prantos. Ignorei qualquer falta de afinidade, compatibilidade e objetivos em comum. Para fazer dar certo era preciso mais emoção do que razão, disso todo mundo sabe.

Ele me adorava sem maquiagem, com a alça do sutiã aparecendo pela blusa e o cabelo em um rabo de cabelo meio solto, meio de qualquer jeito. E se ele adorava, eu fazia. Não me custava nada, afinal. Quer dizer, não mais do que a mim mesma. Ele me via como um projeto, pronta pra ser moldada – e mudada. E o pior, eu me contentava em ser o fantoche pelo qual ele quisesse brincar.

Mas não fui completamente vítima nessa história. Pra falar a verdade, eu gostava mais do que devia de bater no peito e dizer que tinha um namorado. Me sentia parte de algo maior, algo melhor do que já havia experimentado. Eu desfrutava o sabor da aceitação, e sem perceber fui inclusa no grupo das que conseguiram. Conseguiram o quê, eu não sei bem dizer. Mas eu estava lá entre elas, portanto, deveria estar feliz.

Minhas amigas diziam que eu nunca gostei dele, só gostava de tê-lo. Mas levei um tempo pra aceitar que, na verdade, eu estava apaixonada pela nomenclatura. Pela fantasia que havia criado de que eu precisava de alguém. Eu usava a liberdade como escudo pra fugir de questões que me deixavam a noite acordada. Se eu não sentia que queria estar com alguém, por que então deveria? Eu tinha pressa.

Acabei por mensagem de celular e não me orgulho, mas eu não queria deixar espaço para o arrependimento. Não queria ouvir seus planos de vida a dois e acreditar que fossem os mesmos que os meus. Não eram. Eram deles, eram ele, não eu.

Passada a primeira semana entendi que o que eu sentia era alivio e, não, solidão. É muito fácil confundir os dois; ambos te deixam atordoada, distraída, pensativa demais. A solidão sempre se disfarça de medo, já o alívio não. Ele te invade na leveza de pensar na primeira pessoa do singular, e sem culpa.

“Nós” não conjugava mais meu coração. Me perdi dentre meus próprios planos e na lembrança de quem eu era antes dele. Sabe, eu jamais voltei a ser a mesma, mas me tornei, até então, o melhor reflexo de mim: verdadeiramente livre.

Me encontro a cada esquina, em cada peça de roupa que havia escondido no fundo do armário. Canto alto as músicas que eu gosto com fone de ouvido e em público. Não me encabulo com os olhares de espanto por desfrutar meu sorvete de pistache sozinha.

Abandonei minha carteira do Clube Das Que Conseguiram. O que eu consegui ainda não pode ser nomeado, nem mensurado, e infelizmente, tampouco dividido. Mais vale estar só do que submersa em um amor de faz de conta.

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