tumblr_lprywzWFgi1qhbitjo1_500_largeRecentemente, tive o deleite de receber meu primeiro vale-alimentação. Meu bônus salarial. Um dinheiro que, na minha cabeça, veio do nada e de graça (no fundo, eu sei que foi mero fruto do meu próprio esforço durante 30 dias corridos, mas uma garota pode sonhar, não pode?). Sendo assim, decidi que eu compraria o que eu quisesse com esse vale. QUALQUER COISA.

Um adendo: quando eu era criança passava um programa na tevê aberta em que o apresentador (não lembro quem seja, mas gosto de pensar que fosse o Gugu), falava assim pra um grupo de pessoas “Vocês tem um minuto para pegar o que quiserem no supermercado”. Não sei vocês, mas isso me tirava o sono. Eu passava horas imaginando quais coisas pegaria primeiro, eu tinha muita, mas muita vontade, de realizar esse desafio. Era quase uma forma de superação pessoal. Eu andava pelo supermercado analisando marcas e benefícios em tê-las, caso tivesse que executar o ato um dia.

Agora, imaginem que aos vinte e quatro anos, finalmente, recebo um bendito vale-alimentação. Eu praticamente discursei segurando um shampoo como se fosse o Oscar. E, sim, eu estou me lendo, e sei o quanto isso soa patético. Mas não devemos ser felizes com as pequenas coisas da vida? Pois, então… Era minha própria estreia no “Gugu”.

No dia estabelecido acordei cedo, tomei café da manhã com uma ansiedade latente me arrancando a fome. Coisa de velhinho que vai à feira e passa o resto do dia sentado na calçada numa cadeira de balanço, EU SEI. Chegando lá, respirei fundo, peguei um carrinho – evitei fazer lista de compras porque eu não precisava de nada específico, apenas queria me satisfazer – e adentrei àqueles imensos corredores iluminados me sentindo numa passarela.

Acontece que instintivamente a primeira seção a qual visitei era de salgadinhos, biscoitos e chocolates, mas me contive, afinal, sou uma adulta e estou de dieta. Depois fui para os congelados, e me contive outra vez. Daí pra frente a coisa foi piorando e perdendo o controle. Tudo que eu sempre quis comprar eram as mesmas coisas que eu implorava pra que meus pais comprassem pra mim e eu comia com pena. Minha alimentação parou quando eu tinha doze anos, e me vi com o dobro de idade emburrada por não poder almoçar recheado de morango, novamente. Eu sou uma adulta, porra! Quero fazer uma bolinha com a parte recheada do biscoito e depois comê-la, quem vai me impedir?

Essa, sem dúvidas, foi uma das maiores decepções da minha vida. Sério. Passei anos sendo privada de comer tudo que eu gostaria – mas nem sequer culpo meus pais por isso, pois tenho consciência dos malefícios que me trariam, além da obesidade, claro – e quando, finalmente, triunfo e posso realizar meu humilde sonho, de fato, NÃO POSSO. Porque agora sou velha demais pra sobreviver de misto quente, Nescauzinho e pão de queijo. Porque agora meu organismo está lento e todo carboidrato que eu como se aloja nos piores lugares de forma irredutível como o MST. Porque agora minha saúde tem que ser priorizada, já que é inviável passar duas semanas acamada sem produzir e sem gerar renda.

Mas aprendi à duras penas que se você cai uma vez, levanta duas, se cai três, levanta quatro. E tentei ser o mais positiva possível diante dessa realidade. Resolvi ir para a seção fitness e ter uma nova vida. Ser adaptável, ser saudável. Confesso que até me empolguei com a ideia imaginando o quanto eu poderia emagrecer ao cortar as “porcarias” da minha alimentação. No entanto, todo castigo pra pobre é pouco. Alimentos saudáveis custam o dobro do valor da coisa mais gostosa que você puder imaginar, e pior ainda, você tem consciência que não terá um terço do prazer. Ou seja, você gasta mais pra ser infeliz no fim das contas, e poder viver mais, gastando mais ainda e continuando infeliz, cê tá me acompanhando? Qual o sentido da vida? Somos ratinhos de laboratório em atitudes mecânicas nos satisfazendo com recompensas ao adestramento que o “sistema” nos impõe, como por exemplo: meu vale-alimentação.

Eu sentei no chão do supermercado com as mãos na cabeça (sim, eu ainda sei o quanto soa patético). O que eu senti foi um cansaço avassalador devido ao tombo das minhas expectativas. Ok, EU SEI que isso é um exagero, mas eu sou uma pessoa reflexiva. Por isso escrevo. Eu enlouqueço com uma certa facilidade. Por isso escrevo.

No fim das contas, supermercados perderam a graça pra mim, e às vezes, até gostaria de nunca ter tido essa oportunidade por uma covardia de proteger meus sonhos indescritível. Às vezes, a gente se lamenta por coisas que não tivemos, lugares que não fomos, trabalhos que não nos aceitaram, pessoas que não nos amaram, porque inconscientemente temos uma esperança que se fosse diferente seríamos mais felizes, que poderíamos ser mais felizes. E por que não mereceríamos isso, afinal? Por que a vida, eventualmente, nos puxa o tapete do nada?

Bom, coisas ruins acontecem, e às vezes, às pessoas boas. Mesmo eu que sempre racionalizei sobre tudo, abri mão do controle, do planejamento contínuo. Honestamente, nem sempre temos algo a fazer para mudar uma situação incômoda, principalmente aquela que envolve o sentimento dos outros. Mas esse pensamento, embora pareça conformista é extremamente motivacional pra mim. Se eu conheço a possibilidade de não conseguir o que eu desejo, vou dar meu máximo pra mudar essa história. Se eu sei que não posso fazer alguém me amar, vou fazer tudo quanto for possível para não ser odiada. Muitas vezes, a gente vai ter que remar contra o vento ainda quando os braços estiverem fadigados e o cansaço for persistente. A gente tem que continuar simplesmente porque tem. Eu não tenho uma razão maior para isso e, talvez, nem você. Mas continuaremos porque, no fundo, sempre vale a pena acreditar que nossa história vai mudar em algum momento, que vamos ser recompensados ou “sortudos”. E, além disso, Ruffles com chocolate e coca cola nunca matou ninguém. Sei disso também.

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