Ouvi de uma amiga minha, um dia desses, que outra amiga nossa estava praticamente namorando. Essa é uma coisa engraçada sobre ser mulher: somos viciadas em advérbios que nos aproximam da realidade que gostaríamos de ter e ao mesmo tempo reduzem a seriedade do assunto.

Praticamente namorando. Quase casada. Finalmente solteira.

São relacionamentos por um fio que anunciam o fim de um ciclo. E enquanto lutamos pra nos equilibrar de salto alto numa corda bamba, uma vozinha lá no fundo, que atende pelo nome de intuição, questiona nosso esforço. Do que vale a intensidade numa relação sem reciprocidade?

Este texto é pra quem se mantém em cima do muro por medo de perder alguém que não tem.

1) Não te assume.

São incontáveis as desculpas que alguém pode usar pra sair de uma situação ileso. E, muitas vezes, envolve ex, filhos, amigos, emprego, futebol com a galera, papagaio e cachorro. A criatura que tem sempre na ponta da língua uma justificativa pra não estar com você em um determinado momento, não rotular o que vocês têm, não te chamar para o aniversário da tia-avó, não é a mesma que vai se orgulhar por estar ao seu lado. Não é como se você quisesse exibir um troféu, sentir-se vitorioso por estampar a nomenclatura na internet, mas como se você se sentisse sortudo por estarem juntos. Se alguma vez você já sentiu isso por alguém sabe o quão gratificante é ver o amor assumir forma, tamanho, cor de cabelo e até cheiro agridoce. Se alguma vez você já sentiu isso por alguém merece quem sinta o mesmo por você.

2) Não demonstra interesse em sua vida.

Sou o tipo de pessoa que vê o lado ruim das coisas e o lado bom das pessoas. Culpo as circunstâncias enquanto perdoo as atitudes. Um sinônimo pra trouxa otimista, eu diria. Mas o limite é saber a diferença entre estar sendo conquistada e estar se convencendo sobre gostar de alguém. Quem quer mesmo vai atrás. Não fica de joguinho em que disputa quem não se envolve. Quem está interessado assume. Não disfarça na frente dos amigos. Não finge que não se importa com seu sumiço. Quem valoriza, sobretudo, demonstra. Nem sempre as pessoas não vão atrás por orgulho. Às vezes, elas simplesmente não estão tão interessadas quanto você imagina.

3) Não é presente.

Nunca gostei de atribuir demasiada importância às redes sociais. Sinto um nó no estômago só de pensar no quanto ferramentas criadas para estreitar laços são usadas como medidores de afeto. Mas é bem verdade que não se pode ignorar os sinais. Simplificando, há algumas formas de saber quando uma pessoa não está tão afim de você. São elas 1) ela está online e não te responde, 2) ela demora a te responder, 3) ela responde monossilábica, 4) e é sempre você quem puxa assunto. Acontece que, às vezes, pode ser um traço de sua personalidade. Às vezes, pode estar ocupada demais pra dar tanta atenção online. Às vezes, ela não entende a importância que tem pra você de estarem sempre se falando. A questão é: ela se faz presente ou disponível de outra forma? Se a resposta é não, ser insistente, no máximo, te faz parecer desesperada.

4) Não fazem planos a dois.

Uma das maiores dúvidas sobre estar ou não em um relacionamento se apresenta em alto e bom som aos finais de semana, feriados e datas comemorativas. É aquele receio de convidar e estar indo rápido demais ou não falar sobre e parecer que não quer inseri-lo em seu grupo de amigos. É não saber se chegou a hora certa de apresentá-lo às pessoas importantes pra ti. É ter um sincero medo de perder o timing da relação. Você quer falar sobre isso, mas sequer tem coragem de tomar a iniciativa. Você não quer que ele pense que você tem expectativas sobre os dois. Você não quer que ele saiba que você gostaria, sim, de estar com ele no fim de semana também. Você não quer dar o braço a torcer ou tem medo de que, ao se expor dessa forma, descubra que ele não quer o mesmo que você? Pois é, já reparou que não fazer planos é sinal de que você não está em um relacionamento, e não que você pode perder a relação que tem? Se você quer esse tipo de coisa, no mínimo, tem que estar com alguém que queira o mesmo de ti. E o único jeito de descobrir é dando mesmo a cara à tapa.

5) Gostar não é o bastante.

Aprendi, talvez da forma mais dolorosa que o ser humano conhece ao perder alguém que eu verdadeiramente amava, que o amor resiste. Que o amor é, sem dúvidas, a força mais poderosa do universo. Que o amor transcende o tempo, as mágoas, o nosso próprio ego. Que o amor sobrevive. Um autoconhecimento que não veio da noite para o dia, diga-se de passagem. Foram vários livros de romance devorados, inúmeros filmes de comédia romântica e drama (sem contar a influência pertinente da Disney e suas princesas) que deram origem a um coração que quanto mais apanhou menos se rendeu. Levei anos pra perceber que mesmo um sentimento sincero que moldou-se a cada uma de minhas fases, numa tentativa desesperada de trazer para o presente alguém do passado, não era o suficiente. Ainda que fosse recíproco. A única coisa mais bonita do que um casal que faz de tudo pra ficar junto é um casal que, por gostarem muito um do outro e terem consciência do quanto se machucam, reconhecem a hora de parar. Às vezes, à medida que nos esforçamos pra dar certo com alguém deixamos de nos priorizar. E essa é uma das piores formas de aprender que o amor de ninguém pode suprir a necessidade de quem não ama a si mesmo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *